Macroalgas da Antártica: Propriedades Químicas e Avaliação Biológica
Resumen
O continente Antártico atingiu sua atual posição há 45 milhões de anos (Ma) e tem
sido isolado geograficamente dos outros continentes desde a separação da
Península Antártica da América do Sul (há 30 Ma). Devido ao elevado grau de
endemismo existente na Antártica, decorrente de tal isolamento, e às condições
ambientais extremas às quais as espécies, particularmente de macroalgas, são
expostas, elas evolutivamente necessitaram desenvolver mecanismos de adaptação
e, consequentemente, são capazes de produzir uma diversidade de metabólitos
secundários. A busca por potenciais substâncias biologicamente ativas com
aplicação farmacológica tem atraído o interesse para o ambiente marinho, em
especial na terapêutica do câncer, visto ser uma doença que apresenta muitos
desafios para a cura, além de acometer grande parcela da população mundial. Em
relação à Península Antártica, particularmente devido ao limitado estudo da
diversidade local, busca-se caracterizar os materiais biológicos provenientes da
região. Nessa perspectiva, o objetivo do presente estudo foi caracterizar
quimicamente cinco macroalgas endêmicas do continente Antártico e da ilhas
subantárticas e avaliar suas potenciais atividades antitumorais. Extratos com
diferentes graus de polaridade (hexano, clorofórmio e etanol) foram preparados, a
fim de extrair diferentes classes de moléculas das algas e testados nas células de
linhagens tumorais de glioma de rato (C6), glioblastoma multiforme humano (U87) e
adenocarcinoma de pulmão (A549). A fim de avaliar a citotoxicidade dos extratos
foram avaliados os efeitos dos extratos nas linhagens não tumorais de astrócitos de
rato e fibroblastos de pulmão humano. As macroalgas, com exceção da Palmaria
decipiens, apresentaram considerável atividade antitumoral, sendo que os extratos
mais promissores foram os apolares, demonstrando efeito seletivo. Dentre os
melhores resultados obtidos no tratamento de A549, os extratos clorofórmicos das
algas Pyropia endiviifolia, Desmarestia anceps e Iridaea cordata apresentaram as
respectivas concentrações que inibem 50% das células (IC50) 45,66µg.mL-1
;
61,16µg.mL-1 e 67,54µg.mL-1
; enquanto o IC50 do extrato hexânico da clorófita
Prasiola crispa foi 93,02µg.mL
-1
. Já em relação ao tratamento com os gliomas, os
quais são células mais agressivas e malignas, a alga parda D. anceps apresentou
inibição de crescimento em todos os extratos analisados, sendo que os efeitos foram
intensificados após 48 horas de exposição atingindo em 250µg.mL-1 50% de inibição
(hexano) e 45% (clorofórmio) e no extrato etanólico 50% de inibição em 500µg.mL-1
.
O extrato clorofórmico bruto da alga vermelha I. cordata inibiu 40% do crescimento
do glioma em 250µg.mL-1
, enquanto os extratos hexânico e etanólico da Pyropia
endiviifolia inibiram o crescimento em 10µg.mL-1
. Dessa forma, o isolamento das
moléculas apolares biologicamente ativas presentes nesses extratos com potencial
efeito antineoplásico torna-se um próximo alvo de estudo do nosso grupo de
pesquisa.