"Quando as pessoas lembram da Ilha, elas lembram da Jurupiga": memória, tradição e patrimônio na Ilha dos Marinheiros (Rio Grande/RS).
Abstract
A Jurupiga é uma bebida artesanal, feita a partir da uva, se assemelhando a um licor. O modo de fazer a bebida vem sendo passado de geração em geração na Ilha dos Marinheiros desde meados do século XIX, quando se começou a plantar uva no local e quando houve a imigração de portugueses para aquele território. Por inúmeros motivos, a produção teve uma diminuição drástica desde seu auge no século XIX, e hoje há em torno de 17 famílias que ainda produzem a bebida no município. O modo artesanal de fazer Jurupiga é patrimônio cultural imaterial de Rio Grande desde 2010, resultado de uma demanda específica de uma família e de um projeto de extensão universitária, se tornando um instrumento importante para a salvaguarda do modo de fazer. O objetivo central da dissertação é descrever o modo de fazer Jurupiga na Ilha dos Marinheiros, procurando compreender a importância da bebida para a identidade e a cultura dos ilhéus e assim contribuir para a sua salvaguarda. Para atingir os objetivos propostos, a principal fonte utilizada foram as narrativas dos ilhéus, obtidas e analisadas através da metodologia de História Oral. Foi aprofundado o conhecimento sobre o modo de fazer, as modificações que ocorreram com o tempo e as diferenças entre os produtores, assim como foi abordado o impacto do registro em âmbito municipal na comunidade. Da mesma forma, foram aprofundados os conceitos de tradição, memória coletiva e social, bem como de identidade coletiva e cultural para melhor compreender os aspectos sociais, coletivos e individuais das narrativas. A questão do alimento enquanto patrimônio e as contradições entre as legislações sanitárias e patrimoniais também foi central para melhor compreender o objeto de pesquisa. Através das narrativas foi possível identificar muitos pontos em comum nas falas, que ajudam a entender melhor o processo de feitura da bebida. O caráter tradicional, artesanal, familiar e de pequena produção ficou estabelecido desde o início. O medo da fiscalização, tendo em vista que a produção não possui nenhum registro no Ministério da Agricultura, também direcionou a pesquisa para uma discussão sobre as diferenças entre produções artesanais e industriais. Por fim, acredita-se que a memória social relativa à produção da Jurupiga na Ilha dos Marinheiros é muito presente e colabora para moldar e dar subsídios para a manutenção da identidade do grupo. Pensa-se que trabalhar no intuito de salvaguardar este bem cultural é colaborar para impedir que o modo de vida, a cultura e a identidade deste grupo, que estão associados a este bem, desapareça.
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