“É o chão que continua”: a arquitetura em taipa de mão do sertão de Quixadá - Ceará

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Data
2022-03-30Autor
Maia, Stephane de Sousa e Silva
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A presente pesquisa tem como tema a arquitetura popular, entendida como aquela produzida pelo próprio povo, dentro de diferentes escalas e contextos socioespaciais. Mesmo sendo um tema há muito tempo pesquisado e debatido, ainda são incipientes as tentativas de sua documentação, sistematização e disseminação. Tida como uma arquitetura de menor valor e rotulada muitas vezes como “não arquitetura” é relegada, não fazendo parte da formação dos arquitetos e urbanistas, sendo geralmente associada à pobreza, contribuindo para a marginalização dessas manifestações
arquitetônicas. As casas de taipa de mão construídas no contexto do interior do estado do Ceará, passa há anos, por um processo de desvalorização, preconceito, marginalização e consequentemente o desaparecimento, tanto de seus aspectos materiais, através da gradativa substituição técnica da taipa por outras técnicas e materiais construtivos; como imateriais, pela perda dos saberes e fazeres atrelados a elas. Assim a presente pesquisa, de caráter qualitativo, teve como o objetivo de elaborar um inventário que localize, apresente e documente a situação das casas de taipa de mão de áreas rurais do município de Quixadá, no interior do estado do Ceará.
Para isso foi necessário identificar e mapear as casas de taipa de mão de áreas rurais do município, descrever suas características morfológicas e registrar e analisar o saber fazer dessa arquitetura através das narrativas dos mestres construtores e moradores. O percurso metodológico se baseou na pesquisa bibliográfica e documental sobre a temática da arquitetura popular e outros temas transversais a ela, como história de formação da cidade de Quixadá e sua divisão espacial, além da
apropriação de instrumentos de inventário já consagrados, produzidos pelo Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), porém adaptados às necessidade e realidade local. Para documentar os aspectos materiais, tipológicos e de conservação das casas de taipa de mão, foi utilizado como referência o Sistema Integrado de Conhecimento e Gestão (SICG) e para a documentação dos saberes e fazeres construtivos repassados entre as gerações pelos mestres construtores, foi utilizado a metodologia do Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC). Após
a realização da pesquisa de campo e aplicação dos instrumentos de inventário foi possível traçar um panorama atual das casas de taipa de mão de quatro localidades do município de Quixadá/CE, Pote Seco, Vila Nova, Poço Verde e Engano, identificando, mapeando e catalogando aspectos arquitetônicos como implantação, tipologia, conservação, e os saberes e fazeres relacionados à construção das casas de taipa, através de entrevistas semiestruturada com os mestres construtores locais.
É possível perceber que o estereotipo de pobreza e insalubridade ainda está fortemente atrelado às construções em taipa de mão, embora não possamos negar que pessoas em posição de vulnerabilidade recorrem à esses métodos construtivos. No entanto é possível perceber nos discursos de moradores e mestres construtores, uma relação com a taipa e ao seu processo construtivo, que mesmo com todas as investidas de projetos de substituição e até mesmo erradicação, ainda carrega
saberes e fazeres repassados de geração em geração.
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