A práxis da Conservação do patrimônio material nos contextos brasileiro e espanhol sob a ótica das Representações Sociais.
Abstract
A Conservação dos bens culturais móveis é um importante campo da proteção do
patrimônio, que visa garantir às gerações futuras a preservação dos valores e dos
objetos em que se assenta a identidade dos grupos sociais. Como qualquer área
especializada, trata-se de um terreno que segue a influência de distintas orientações
teóricas e marcos de referência. O objetivo desta tese foi muito além de analisar a
influência destas escolas e o seu peso específico. O foco central foi no sentido de
examinar as concepções subjacentes à práxis dos conservadores-restauradores em
dois âmbitos distintos: Espanha e Brasil. A tarefa fez aflorar as valorações destes
profissionais no que tange à definição do que é uma Boa Conservação e do seu
oposto, a Conservação Inadequada. Comparar a práxis do conservador-restaurador
nos dois âmbitos espanhol e brasileiro foi possível graças à realização de uma missão
internacional (doutorado sanduíche) proporcionada em virtude do apoio da CAPES. O
estudo envolveu a realização de 51 entrevistas no total, mediante o uso de roteiro
semiestruturado, sendo 29 no Brasil e 22 na Espanha. A análise do material empírico
revelou uma fonte densa de informações e dados que foram organizados e analisados
através do software NVivo. Há mais aspectos convergentes do que divergentes entre
os depoimentos colhidos nos dois lados do Atlântico. Não obstante, alguns aspectos
se sobressaem. O que pauta a Boa Conservação em ambos os países é a
observância ao Código de Ética, o respeito dado aos bens culturais e sua trajetória e
o cumprimento dos critérios clássicos da área, em especial do princípio da intervenção
mínima. No caso brasileiro, representa 44% dos depoimentos, na Espanha, chega a
60%. O sentido inverso se mostrou ainda mais expressivo: 64% dos entrevistados
brasileiros atribui ao desprestígio à ética, ao desrespeito ao bem cultural e sua
trajetória e ao descumprimento aos critérios clássicos, o conceito de Conservação
Inadequada. Dentre os espanhóis, a manifestação dessa ideia atinge a expressiva
marca de 71%. Por outro lado, os dois países sofrem do intrusismo laboral, da exígua
valorização social e de grande dificuldade de organização da categoria que ainda hoje
carece da regulamentação profissional. Quanto aos modelos teóricos, o chamado
‘restauro crítico’ parece preponderar em ambos. Entretanto a reflexão crítica, base
que sustenta o pensamento contemporâneo, não foi uma ideia manifestada dentre os
espanhóis, o que foi visto com surpresa. Em síntese, o grande mérito desta tese se
assenta em três elementos básicos. Em primeiro lugar, por trazer à tona as
objetividades, mas sobretudo as subjetividades que se ocultam no cotidiano dos
operadores desse mètier; em segundo lugar, por realizar um estudo comparativo que
propõe o cotejo de dois contextos distintos, representados, de um lado, pelo Brasil e,
de outro, pela Espanha. Em terceiro lugar, por fazer uso de um recurso heurístico
singular e bastante adequado para a natureza do objeto de pesquisa, qual seja, a
teoria das representações sociais, uma ferramenta eficaz que vem sendo largamente
utilizada pelas diversas disciplinas que integram o campo das Ciências Sociais
Aplicadas e das Ciências Humanas.
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