Narrativas entrelaçadas: conversando sobre leituras e lembranças de escola com mulheres que se "encontram" em um salão de beleza de cultura afro.
Resumo
Este trabalho traz reflexões tecidas em uma pesquisa realizada no Curso de Mestrado em Educação da UFPel, a qual, desenvolvida em um Salão de Beleza de Cultura Afro, na cidade do Rio Grande, teve como foco perceber, nas narrativas de três mulheres, leituras e lembranças do seu processo de escolarização, interrompido por motivos diversos. Nas narrativas demonstram motivos que influenciaram essa saída da escola e dentre eles destacam a necessidade de sustento, implícita ou explicitamente. Cada mulher, fala sobre suas aprendizagens diárias, realizadas em experiências não-formais. Na complexa vivência com os cabelos, deixam visível o reconhecimento de uma sociedade que institui padrões. Anunciam seus sonhos, os quais, mesmo que nem sempre sejam construídos pela via do conhecimento formal, retratam a escola como um lugar almejado e significativo, contraditoriamente à sua experiência cotidiana. Trago reflexões possíveis, sobre a não-neutralidade inerente à pesquisa em educação, apontando caminhos metodológicos para concebê-la, relatando minha experiência e reflexão com as mulheres. Apresento narrativas entrelaçadas e “transcriadas”, de mulheres afro-brasileiras que trilharam seus caminhos pela via do conhecimento não-formal, relatando lembranças e leituras de escola que se encontram amalgamadas. Diferente da pesquisadora, que, no momento da pesquisa, tem o processo de escolarização como ponte para a objetivação de seus sonhos e desejos, estas mulheres tiveram a escola como uma passagem. Histórias que se bifurcam em determinado momento, mas que, pela proximidade com raízes afro-brasileiras se entrelaçam, e isto pela simples convivência com o cabelo crespo. Fundamental para compreender as razões destas leituras é perceber que as vivências cotidianas são geradoras de conhecimento e possibilidades de análise. A referida pesquisa, procura, através dos pilares da pesquisa participante, dialogar com mulheres e, sem intenções messiânicas, dar voz a quem tem sua visibilidade restrita à coletividade que construiu.
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