Fibrose renal associada à necrose tubular aguda em cães e gatos: revisão histológica, estadiamento e dados retrospectivos
Resumen
Os rins desempenham um papel essencial na manutenção da vida e estão
frequentemente envolvidos nas causas de óbito e eutanásia em cães e gatos. Em
casos de injúrias renais agudas, espera-se que os animais sobreviventes apresentem
processos de regeneração ou reparação por fibrose. Neste contexto, esta tese traz
uma análise retrospectiva das alterações histopatológicas relacionadas a fibrose,
encontradas em rins de cães e gatos com diagnóstico de necrose tubular aguda,
principal alteração renal aguda observada em cães e gatos atendidos pelo Serviço de
Oncologia Veterinária da Universidade Federal de Pelotas (SOVET-UFPEL), no
período de 2016 a 2024. Os dados estão apresentados em dois artigos: O primeiro,
que apresenta as alterações histológicas e propõe um sistema de graduação para a
necrose tubular aguda (NTA), e o segundo, que aborda uma análise comparativa entre
o sistema de graduação de NTA com outros sistemas já existentes. Para o primeiro
artigo, foram analisadas amostras renais de cães e gatos com NTA, obtidas através
de dados do sistema integrado SIG/SOVET e classificadas em NTA isquêmica ou
nefrotóxica. Dois grupos controles incluíram rins de animais com doença renal crônica
(controle positivo) e rins sem alterações (controle negativo). A graduação da NTA foi
baseada em dados obtidos através de lâminas histológicas coradas em hematoxilina
e eosina, onde foi considerado necrose epitelial, cilindros pigmentados e fibrose
peritubular, com pontuação de 0 a 3, classificando NTA em leve (≤3), moderada (>3 -
≤6) e intensa (≤7). A fibrose foi avaliada por tricrômico de Masson quanto à intensidade
e distribuição em três regiões renais. Dados epidemiológicos (espécie, raça, idade,
sexo e etiologia) foram coletados do SIG/SOVET e SimplesVet®, classificando os
animais por faixa etária: filhotes (<1 ano), adultos (1-9 anos) e idosos (>9 anos), o que
resultou em maior prevalência de gatos adultos e cães idosos, com ambas as espécies
com maior número de animais sem raça definida (SRD). Como resultado do primeiro
artigo observou-se correlação direta entre a gravidade das alterações histológicas e a
intensidade da fibrose peritubular, sugerindo seu papel inicial na resposta fibroplásica
da NTA. A graduação de NTA mostrou maior frequência de grau II em felinos (62,5%)
e distribuição equilibrada entre graus II e III em cães. A fibrose variou de discreta a
intensa em ambos os grupos, sugerindo uma necessidade de maiores estudos
voltados para diagnóstico histológico da NTA. O segundo artigo utilizando as mesmas
plataformas do artigo anterior, cruzou os dados dos animais e o estadiamento das
alterações com as taxas de ureia e creatinina séricas. Como resultado, observou-se
divergências relacionadas as graduações, evidenciando que a creatinina sérica pode
ser tardia para o diagnóstico da NTA e IRA.