Força muscular e sintomas depressivos entre idosos não institucionalizados do sul do Brasil: um estudo longitudinal
Resumo
Esse trabalho faz parte do estudo de coorte realizado com idosos não institucionalizados intitulado “COMO VAI?”. O objetivo foi avaliar a associação bidirecional entre força muscular e a presença de sintomas depressivos entre idosos não institucionalizados do sul do Brasil. Dos 1.451 idosos com 60 anos ou mais entrevistados em 2014, 537 foram acompanhados em 2019-20. Em ambos os anos, as entrevistas ocorreram presencialmente, por meio de questionário sobre a situação sociodemográfica, aferição de medidas antropométricas e realização de testes físicos. A força muscular foi mensurada nestes dois momentos a partir de dinamômetro manual digital e a ocorrência de sintomas depressivos conforme a Geriatric Depressive Scale (GDS-10). Foram classificados com baixa força muscular aqueles idosos com valores abaixo de 33,8 kg para homens e 18,9 kg para mulheres. Considerou-se que os sintomas depressivos estavam presentes quando atingida pontuação igual ou superior a cinco na GDS-10. As covariáveis presentes neste estudo foram incluídas conforme avaliação na entrevista de 2014, sendo as seguintes: sexo, idade, cor da pele, situação conjugal, escolaridade, nível econômico, situação ocupacional, qualidade da dieta, atividade física, tabagismo, índice de massa muscular (IMC) e diagnóstico de doença cardiovascular e cerebrovascular. Utilizou-se análises multivariadas nas associações entre sintomas depressivos e baixa força muscular e afim de investigar a bidirecionalidade, a análise Cross-Lagged Panel Model (CLPM). Observou-se que 14,1% dos idosos em 2014 apresentavam sintomas depressivos, seguido de 17,3% no ano de 2019-20. Em relação à baixa força muscular, 25,8% foram observadas em 2014, e a prevalência aumentou significativamente para 37,7% em 2019-20. Observaram-se associações estatisticamente significativas entre baixa força muscular e ocorrência de sintomas depressivos em ambas as entrevistas. Em 2014, a frequência de sintomas depressivos em idosos com baixa força muscular foi 1,5 vezes maior do que entre aqueles com força muscular normal [RP: 1,46 (IC95%: 1,24; 1,72); p<0,001]. Da mesma forma, ao verificar se a probabilidade de apresentar baixa força muscular foi quase duas vezes maior entre aqueles idosos com sintomas depressivos do que aqueles classificados sem a condição [RP: 1,74 (IC95%: 1,34; 2,27); p<0,001]. Não houve associação longitudinal entre baixa força muscular e sintomas depressivos. A medida de efeito observada na análise transversal com as variáveis coletadas em 2019-20 foi inferior ao observado em 2014. A medida de efeito entre as variáveis na avaliação de 2014 foi estatisticamente significativa apenas entre os idosos mais jovens (<75 anos) [RP= 1,68 (IC95%: 1,35; 2,08); p<0,001]. A partir desse estudo ressaltamos a importância de que o momento mais oportuno é o começo da terceira idade para realização de ações que ocasionem a diminuição da perda de força muscular inerente à idade e a ocorrência de sintomas depressivos, atuando através de medidas de promoção à saúde como estímulo à alimentação saudável, prática de atividade física, independência funcional e interação social. Este volume é composto pelo projeto de pesquisa, seguido do relatório do trabalho de campo, alterações referentes ao projeto de pesquisa, o artigo original e as normas de publicação da revista The Journal of Nutrition, Health & Aging, para qual o artigo que compõe esta dissertação será submetido.