Atividades organizadoras de ensino: uma proposta intervencionista de leitura e produção de gêneros textuais à luz dos pressupostos da Teoria Histórico-Cultural da Atividade e da Semiótica Discursiva
Resumo
Inúmeras são as discussões no contexto escolar sobre o fato de que o aluno da educação básica não lê, de que não aprecia a leitura, principalmente, dos clássicos literários, por ser difícil, complexa. Sabe-se, também, que cabe à escola ensinar os caminhos que o aluno deve percorrer para compreender os sentidos abarcados nesse tipo de texto. Todavia, a escola tem subestimado a capacidade leitora do estudante, principalmente quando o foco é a leitura por fruição. O potencial do texto literário fica relegado ao uso restrito de atividades meramente estruturais destinadas ao estudo de conteúdos gramaticais ou para o simples preenchimento de fichas de leitura. (COSSON, 2006; ANTUNES, 2009; GERALDI, 2011). Pensando nos desafios apresentados nesse contexto problemático que persiste, esta pesquisa se justifica. Ela teve como objetivo planejar, implementar e avaliar os efeitos de uma intervenção pedagógica (DAMIANI et al., 2013), construída por meio de Atividades Organizadoras de Ensino - AOE (MOURA, 2001; 2010) aplicada a alunos dos 8ºs e 9ºs anos do Ensino Fundamental de uma escola pública da cidade de Pelotas. O estudo está embasado nos pressupostos da Teoria Histórico-Cultural da Atividade (VYGOTSKY, 1995, 1997, 2009; LEONTIEV, 1978, 1983) e na perspectiva teórico-metodológica da Semiótica Discursiva (GREIMAS e COURTÉS, 2016). A intervenção consistiu em uma proposta de ensino e de aprendizagem da leitura e produção de diferentes gêneros textuais a partir da leitura de uma narrativa literária curta (contos/causos). Os dados foram coletados por meio dos seguintes instrumentos: 1) relatos individuais dos estudantes, apontando suas percepções, angústias frente à proposta; 2) relatório, construído coletivamente, entregue ao final de cada uma das unidades de trabalho, para verificar as dificuldades no desenvolvimento das AOE; e 3) observação sistemática da professora-pesquisadora registrada em diário de campo, para acompanhar o processo de aprendizagem dos estudantes. Todos os dados foram submetidos a um processo de análise textual discursiva, tal como o proposto por Moraes (2003). Desse corpus emergiram categorias como as que seguem: a) reação geral dos estudantes à intervenção; b) importância do trabalho colaborativo; c) aprendizagem da leitura e da produção textual; e d) construção de sentido que emergiu na produção de novos textos a partir da leitura do texto literário. Sendo a Semiótica Discursiva um constructo de análise de textos, que “procura descrever e explicar o que o texto diz e como ele faz para dizer o que diz” (BARROS, 2011, p.7), ela contribuiu para a análise da produção de sentido, ou seja, os procedimentos utilizados pelos alunos na construção de sentido dos textos. Tal análise foi realizada em produções referentes a quatro gêneros textuais sincréticos (curtas-metragens, cartazes de divulgação dos curtas, memes e histórias em quadrinho), com a seleção de seis produções dos alunos, resultantes das AOE (dois curtas, um cartaz, dois memes e uma história em quadrinhos). Os achados da pesquisa sugerem que houve avanços no processo de aprendizagem tendo como base a proposta intervencionista a qual contribuiu para que os alunos se apropriassem, naquele momento, da prática de leitura e produção de textos, não só do texto literário como de outros gêneros textuais. Além dos dados, verificou-se a contribuição de ambas as teorias (Teoria Histórico-Cultural da Atividade e Semiótica Discursiva) para o desenvolvimento da prática pedagógica e da pesquisa direcionando o trabalho do professor-pesquisador.