A construção de uma história: processos e disputas patrimoniais em Gravataí – RS
Resumen
Os conceitos de patrimonialização e patrimonialidade (POULOT, 2009) embasam a discussão sobre a eleição de patrimônios de Gravataí, cidade localizada na região metropolitana de Porto Alegre. A cidade foi o maior aldeamento indígena do Rio Grande do Sul no período colonial, e percebe-se a influência de pessoas de origem africana desde os primórdios de sua colonização. Todavia, o discurso autorizado do patrimônio (SMITH, 2009) limita-se a um passado açoriano e católico como base identitária dessa população. Buscando compreender tais discrepâncias, o estudo em questão imerge na história dessa localidade e analisa seus processos patrimoniais, desde a implementação do Museu Municipal Agostinho Martha, criado em 1974, até a organização da Secretaria Municipal de Cultura, no final de 2024. A partir de uma perspectiva decolonial – embasada nas discussões de autores como Aníbal Quijano (2005; 2007), Mignolo (2008), Maldonado-Torres (2018), Bernardino-Costa (2018), Gil e Meinerz (2017), Françoise Vèrges (2020; 2023) – problematizamos os patrimônios e discursos estáticos atrelados ao passado e presente dessa comunidade. A pesquisa participante, por meio da realização de entrevistas, participação no Conselho Municipal de Política Cultural de Gravataí (CMPC) e atuação em projetos culturais, são as bases das discussões propostas. O primeiro capítulo introduz o cenário da pesquisa, a história e reflexões que levaram ao surgimento deste estudo. A discussão quanto à metodologia, de modo mais denso, ocorre no segundo capítulo, onde descrevemos a mesma e os caminhos percorridos pela pesquisa. O terceiro capítulo apresenta a cidade e o desenvolvimento de suas políticas culturais e patrimoniais. A influência do Museu Municipal na eleição de bens elevados à categoria de patrimônios, assim como as problematizações referentes a esses processos, que se modificam a partir de 2012, são aspectos analisados no quarto capítulo. No quinto, a construção da açorianidade e o apagamento das heranças negras e indígenas são debatidos. As patrimonialidades percebidas, a apresentação de elementos vinculados à herança negra da cidade, fazendo uso do conceito de “memórias subterrâneas” (POLLAK,1989), e a atuação de agentes culturais nas transformações observadas na cultura do município são o tema do sexto capítulo. O sétimo foca na apresentação e discussão da atuação da autora no cenário cultural, tentando apresentar mecanismos para a rearticulação das narrativas oficiais. Nas considerações finais, realizamos um balanço sobre a pesquisa, as hipóteses levantadas e as descobertas feitas nesse processo.