“Nosso cemitério deve ser um Campo de Deus”: comunidade, morte e práticas cemiteriais. Sínodo de Missouri/IELB (Sul do Rio Grande do Sul, 1900 - 1968)
Resumo
A tese investiga práticas de administração de espaços cemiteriais e de sepultamento, concepções de morte e de ensino sobre a morte em congregações religiosas evangélico-luteranas, organizadas em torno do conceito comunitário de Gemeinde, no sul do Rio Grande do Sul entre os anos de 1900 e 1968. Pertencentes ao Sínodo de Missouri/IELB, os cemitérios, entendidos pelo grupo religioso como “Campo de Deus”, apresentaram na configuração do espaço e em suas edificações o que seriam mortes “ímpias” ou “bem-aventuradas”. A delimitação espacial da pesquisa está relacionada ao início do trabalho missionário do referido grupo religioso na região que abrange atualmente os municípios de Canguçu, Morro Redondo e São Lourenço do Sul. A temporalidade (1900-1968) faz referência à atuação e às mudanças ocorridas nas congregações do Sínodo quanto à administração cemiterial e ordenamento de caráter religioso dos sepultamentos. Trata-se de uma pesquisa histórica, com abordagem da história cultural em diálogo com estudos da teologia. Acerca das fontes, a tese utiliza documentos escritos, orais e materiais, tais como regimento cemiterial, atas das congregações, periódicos, entrevistas e a materialidade dos cemitérios, notadamente as lápides. Por meio das práticas de administração dos cemitérios, o trabalho analisa três elementos fundamentais e interligados que funcionavam como sócio-transmissores de saberes de preceitos religiosos: o ensino da morte na crença evangélico-luterana, o sentido do “Campo de Deus” e a construção das sepulturas como referentes de uma pedagogia do morrer. As análises demonstram que a vida comunitária esteve associada ao ensino sobre a morte, com ênfase na configuração do espaço cemiterial e nos próprios sepulcros do período pesquisado. Conclui-se que a ordenação dos cemitérios, seus muros, suas lápides com suas representações imagéticas (simbologia litúrgica) e seus epitáfios cumpriam o propósito daqueles que administravam os espaços cemiteriais. Esse propósito era de que o “Campo de Deus” fosse sócio-transmissor do ensinado na igreja, ou seja, o “pátio da igreja” servindo de “edificação aos visitantes”.