Vasculhando os baús de memórias: objetos guardados nas residências de pessoas da zona rural de Pelotas e seu potencial emotivo
Abstract
Este estudo investiga a complexa relação entre objetos, memória, identidade, território e ruralidade na zona rural de Pelotas, focando em objetos não doados a museus locais. A premissa central é que esses objetos carregam fortes cargas emocionais, representando laços familiares, tradições e vivências, motivando sua retenção pelos moradores. Explora a dimensão afetiva e memorial desses objetos, buscando compreender como atuam como extensões da memória individual e coletiva, conectando passado e presente. Utilizando entrevistas com alguns moradores, identifica as diversas emoções envolvidas nessa relação, que
transcendem o simples afeto, abrangendo ressentimento, saudade e um forte senso de pertencimento. A proposta de musealização no âmbito privado, surge como alternativa para preservar essas memórias, descentralizando o papel do
museu tradicional e valorizando narrativas individuais. A pesquisa demonstra que a recusa em doar não implica desinteresse pela preservação, mas sim o desejo de manter o controle sobre as próprias histórias e preservar um patrimônio afetivo ligado à identidade. O estudo analisa a transformação dos objetos em "semióforos" (Pomian, 1984), a importância da participação
comunitária na construção do patrimônio (Gonçalves, 2005, 1966), o papel dos objetos como mediadores de memórias (Nery e Ferreira, 2013; Brahm, 2017), a influência da percepção do tempo na ruralidade (Elias, 1990; Lefebvre, 2001) e o papel dos idosos como "guardiões da memória" (Bosi, 1994; Bezerra, 2013). Aborda também diferentes formas de colecionar, disputas por memória e relações de poder em instituições culturais. A pesquisa contribui para a museologia ao expandir o conceito de musealização para além dos espaços institucionais, propondo uma abordagem mais inclusiva que valoriza memórias
individuais, narrativas locais e o patrimônio cultural de comunidades rurais. Dialoga com autores como Brulon (2018), Cury (2005), Santos Gonçalves (2006, 2011), Geertz, De Certeau, Pollak, Baudrillard, Mauss (1925), Debary (2010),
Bataille (1949), Brahm (2017, 2021), Oliveira (2019), Wallon (1972), Scheler (2009) e Velthem (2017). Embora focada na zona rural de Pelotas, suas descobertas podem inspirar pesquisas em outras comunidades rurais, explorando a musealização privada para a preservação da memória.