Desigualdades na percepção dos pais sobre a saúde bucal da criança: uma revisão de escopo e um estudo de caráter transversal
Fecha
2025-02-21Autor
Farias, Rafaela Zazyki de Almeida
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A percepção dos pais sobre a saúde bucal dos seus filhos pode ser influenciada por fatores clínicos da criança, como a presença de cáries, dor dental, trauma, máoclusão, e fatores socio-econômicos como renda familiar, escolaridade e raça/cor. Além disso, pode ser considerada um proxy da saúde bucal infantil, podendo direcionar para grupos de crianças que necessitam de maior atenção. A possibilidade de medir a percepção por meio de uma pergunta de item único a torna uma alternativa rápida e barata, podendo ser realizada em locais onde o exame odontológico não é possível. O objetivo geral dessa dissertação foi avaliar o efeito das intersecções entre sexo da criança, escolaridade materna, riqueza e raça/ na percepção materna sobre a saúde bucal da criança. Especificamente, buscou-se: I) Investigar, por meio de uma revisão de escopo, a literatura existente sobre a percepção dos pais/cuidadores sobre a saúde bucal da criança, mensurada através de perguntas de item único; e II) Avaliar o efeito das desigualdades sociais e suas intersecções na percepção sobre a saúde bucal infantil em um estudo transversal, utilizando dados de uma coorte de nascimentos da cidade de Rio Grande- RS, Brasil. A revisão incluiu 30 estudos observacionais, identificados em sete bases de dados até janeiro de 2024, e mostrou que há lacunas importantes na literatura sobre o uso de itens únicos para mensurar a percepção dos pais sobre a saúde bucal da criança. Dos estudos incluídos somente
treze atingiram todos os critérios de qualidade metodológica. Foi identificada uma extensa heterogeneidade, falta de padronização e validação das questões e opções de respostas existentes, impedindo a recomendação de um instrumento específico e apontando a necessidade de pesquisas futuras que investiguem a validade e confiabilidade do instrumento. O estudo transversal, com dados de 735 participantes da coorte de nascimentos de 2019 de Rio Grande, identificou que a 11% das mães percebem a saúde bucal da criança de forma negativa, a qual está concentrada no quintil mais pobre de riqueza, com diferença de 12 pontos percentuais entre o quintil mais pobre e o mais rico (SII:-0,12;IC95% -0,19;-0,04). Quanto à educação materna, a diferença foi de 9 pontos percentuais entre os grupos de mães com maior e menor nível educacional, sendo as menos escolarizadas as que percebem com maior frequência a saúde bucal dos filhos de forma negativa (SII: -8,8; IC95%-0,17;-0,2).
Dois grupos de alto risco foram identificados na árvore de decisão. O grupo com maior prevalência do desfecho (44%) incluiu 4% de todas as crianças e incluía crianças cujas mães percebiam sua própria saúde bucal como negativa, estavam nos quintis 2 e 3
de riqueza e tinham 30 anos ou mais de idade. Como conclusão, a presente dissertação reuniu evidências importantes sobre o uso de itens únicos para avaliar a percepção dos pais em relação a saúde bucal dos filhos, e evidenciou as iniquidades na percepção materna, considerando as intersecções que a afetam. Identificar grupos que concentram desfechos negativos em saúde podem direcionar políticas públicas e auxiliar no enfrentamento das iniquidades em saúde bucal.