“Trem da saudade”: uma análise das relações entre memória e história na construção de uma identidade ferroviária na cidade de Pedro Osório, RS
Abstract
A presente tese se ocupa em analisar o entretecimento entre memória e história na localidade de Olimpo, atual cidade de Pedro Osório, cujos traçados foram delineados pela expansão ferroviária da segunda metade do século XIX. Esse contexto se mostrou rico em informações e possibilidades de exploração da fronteira que, embora seja tênue, difere a história da memória. Além disso, a pesquisa também buscou responder a problemática de uma possível construção identitária em relação ao trem e suas representações locais. Com base na alegoria das figuras mitológicas de Mnemosyne (memória), Clio (história) e Cronos (tempo), foram realizadas discussões que permeiam as vivências e as temporalidades da cidade, a tríade que luta entre si pelo direito de lembranças, esquecimentos, rupturas e permanências.Trata-se de uma proposta com o objetivo de modificar a forma de observação e construção de conhecimento que, apesar de abranger a história local, também se utiliza da microanálise, apropriando-se de alguns aspectos característicos dessa escola teórica. Assim, a redução de escala permite uma observação mais detalhada e, ao mesmo tempo, a inserção de uma interpretação mais ampla de contexto. Para tanto, trabalhou-se com as narrativas de memórias evocadas a partir da imagem e do apito do trem de carga, que ainda ressoa no silêncio da cidade. Narrativas coletadas a partir da ferramenta “Google Forms”, entrevistas efetuadas diretamente por mim ou disponibilizadas por outros pesquisadores e pela análise do documentário “Nos trilhos da memória”, uma iniciativa local de preservação da memória ferroviária. Portanto, por meio da contraposição das memórias geracionais e dos remanescentes da cultura railway, o “trem da saudade” percorreu as linhas que resultaram na leitura da trajetória de uma cidade. Averiguou impactos e alterações no cotidiano de um pequeno povoado às margens do rio Piratini, cujos traçados atuais conservam os vestígios de uma identidade ferroviária.