A percepção dos oficiais da marinha sobre a Guerra do Paraguai: uma análise de conteúdo a partir da revista Navigator
Abstract
A Guerra do Paraguai (1865-1870) foi um conflito entre a Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai) e o Paraguai, crucial para a consolidação territorial dos países envolvidos e para a ordem no Rio da Prata. Para as Forças Armadas brasileiras, o conflito marcou o início de uma reivindicação política na sociedade, especialmente pelo Exército, que após a guerra, ganhou força política significativa, influenciando a queda de D. Pedro II e a instauração da República. A Marinha, com sua história aristocrática e prestígio, foi a força mais importante do período imperial. Dessa forma, questiona-se: qual a percepção dos oficiais da Marinha do Brasil sobre a Guerra do Paraguai, apresentada em seus artigos publicados na Revista Navigator nos ciclos 1970-1985 e 2005-2023? Pensa-se que ocorra uma tentativa de recuperar a relevância política e social da Marinha por meio de publicações científicas o que será verificado através da análise de conteúdo dos artigos para entender a percepção da Guerra do Paraguai pelos oficiais da Marinha e a construção de memória para ressaltar seu papel político. A "Revista Navigator" visa formar uma consciência marítima na sociedade brasileira. Retomada em 2005, possui 37 volumes. Seu primeiro ciclo, com 20 volumes, foi publicado entre 1970 e 1985. No ciclo inicial, a revista focou na história da Marinha do Brasil para seus membros, enquanto no segundo ciclo, buscou ampliar a consciência marítima nacional, envolvendo todos os interessados. A análise de conteúdo dos artigos revela maior foco em tecnologias, biografias de ícones da Marinha do Brasil e sua participação em guerras, especialmente na Guerra do Paraguai, destacando o papel político e social da instituição. Antes, a revista parecia educar sobre o valor político da Marinha, durante a hegemonia do Exército. Concluiu-se que a hipótese foi parcialmente confirmada. A percepção dos oficiais superiores da Marinha do Brasil sobre Guerra do Paraguai, demonstra que existe, na instituição, um sentimento de orgulho relativo à sua participação no conflito o que propiciou a construção de seus textos de forma a enaltecê-lo, bem como ressaltar a participação da Força nele. Esta percepção diferenciada, específica, apontou para a tentativa de construção de uma memória política nacional em que a Marinha do Brasil passe a ter um papel de maior relevo, mas não da forma contundente que se conjecturou no início do trabalho.