Bioarqueologia dos esquecidos: desafios éticos a partir do trabalho com uma coleção de ossos contemporâneos no Rio Grande do Sul
Abstract
No Brasil, apesar dos avanços em Bioarqueologia, ainda há uma lacuna significativa de pesquisas nessa área, o que muitas vezes leva os pesquisadores a depender de bancos de dados de populações estrangeiras. À vista disso, torna-se evidente a necessidade de coleções de ossos contemporâneas originárias de populações brasileiras para a condução de pesquisas mais precisas e contextualizadas. Para além disso, é preciso reconhecer que o tratamento ético dessas coleções é crucial, uma vez que os ossos que as compõem representam indivíduos que viveram recentemente e, portanto, têm significados culturais e históricos ainda muito presentes na nossa memória. A Universidade Federal de Pelotas (UFPel) possui uma coleção de ossos que exemplifica os desafios éticos enfrentados no tratamento de remanescentes esqueléticos. A partir da organização da coleção de ossos da UFPel, esse estudo objetiva analisar os desafios éticos associados à pesquisa com remanescentes humanos, visando preservar não apenas a integridade física dos ossos, mas também o valor histórico e cultural que estes representam. Foram desenvolvidos protocolos para a catalogação e organização dos ossos presentes na coleção, ao mesmo tempo em que se realizaram reflexões acerca da complexidade ética de lidar com remanescentes humanos no contexto das coleções esqueléticas contemporâneas. Como resultado, buscou-se promover uma abordagem ética e responsável na prática bioarqueológica no Brasil.