Estudo da compulsão alimentar associada ao comportamento do tipo depressivo em camundongos C57BL/6 fêmeas: padronização de um protocolo experimental envolvendo estresse e acesso intermitente à sacarose
Resumen
O transtorno de compulsão alimentar periódico é o distúrbio alimentar mais recorrente
mundialmente, apresentando múltiplos mecanismos fisiológicos e neurais, como a
disfunção do sistema monoaminérgico e do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA).
Esse transtorno tem um impacto negativo à vida dos indivíduos acometidos e está
geralmente acompanhado de outros transtornos psiquiátricos, como a depressão. A
terapêutica atual, muitas vezes, não apresenta melhora significativa dos sintomas, se
tornando relevante a busca por entender a complexa neuropatologia do transtorno
compulsivo alimentar. Os objetivos deste estudo foram: I) fundamentar um protocolo
experimental sólido a fim de mimetizar em animais o comportamento do tipo
compulsivo alimentar e fenótipo do tipo depressivo através de acesso intermitente à
solução de sacarose e jejum alimentar e II) investigar as possíveis alterações
bioquímicas relacionadas com foco no sistema monoaminérgico e eixo HHA. Para
isso, camundongos C57BL/6 fêmeas foram divididos em 4 grupos contendo medidas
basais similares de peso corporal e ingesta: (I) Naive – com acesso contínuo à ração
padrão; (II) Controle – com acesso contínuo à solução de sacarose 10% e ração
padrão; (III) J16 – jejum por 16h seguido de acesso à solução de sacarose 10% e
ração padrão por 8h; e (IV) J20 – jejum por 20h seguido de acesso à solução de
sacarose 10% e ração padrão por 4h. Os animais passaram por uma indução sob tais
condições por 10 dias. Após a indução para geração do comportamento do tipo
compulsivo (11º dia), os animais foram submetidos ao teste de alimentação, teste de
campo aberto (TCA), teste do labirinto em cruz elevado (TLCE), teste de suspensão
pela cauda (TSC) e, no dia posterior (12º dia), ao teste de risco no claro/escuro
(TRCE), seguido pela eutanásia. Foram retiradas estruturas cerebrais, hipocampo,
córtex pré-frontal e hipotálamo, para analisar atividade das monoaminas oxidases
(MAO) A e B, além do plasma para medição de corticosterona. O comportamento do
tipo compulsivo alimentar e depressivo foi observado nos dois grupos jejuns, além
disso esses grupos apresentaram aumento da corticosterona sanguínea, aumento da
MAO-A hipocampal e diminuição da MAO-B no córtex pré-frontal e hipotálamo. Mas
foi apenas no grupo J20 que os animais apresentaram comportamento de abstinência
e do tipo impulsivo, nos aparatos TRCE e TLCE. Ademais, foi observado que os
animais que receberam sacarose de forma contínua tiveram diminuição da locomoção
no TCA e aumento da MAO-A no córtex pré-frontal. Em conclusão, nossos dados
sugerem que embora o J16 possa induzir o comportamento comórbido em
camundongos C57BL/6 fêmeas, o J20 foi o mais legítimo para gerar o comportamento
do tipo compulsivo alimentar associado ao fenótipo do tipo depressivo, com
características de abstinência pelo alimento palatável. Portanto, este protocolo poderá
ser futuramente empregado para a avaliação de candidatos para o tratamento da
compulsão alimentar associada à depressão.