Avaliação da capacidade imunogênica de células leveduriformes de Sporothrix schenckii inativadas em modelo murino
Resumo
Esporotricose é uma micose subcutânea de caráter zoonótico, cosmopolita de
evolução subaguda ou crônica que tem como agente etiológico o fungo dimórfico
Sporothrix schenckii afetando o homem e várias espécies de animais, principalmente
o felino doméstico, sendo considerada de interesse para a Saúde Pública.
Considerando as dificuldades terapêuticas no tratamento da micose nessa espécie
animal, incluindo toxicidade e o desenvolvimento de resistência aos antifúngicos
tradicionalmente utilizados na terapia da enfermidade o estudo objetivou avaliar a
capacidade imunogênica de células leveduriformes de S. schenckii inativadas tanto
na imunoprofilaxia como na imunoterapia da esporotricose. Foram utilizados 160
ratos albinos wistar (Rattus norvergicus) com 70 dias (80 na imunoprofilaxia e 80 na
imunoterapia) sendo divididos em quatro grupos que receberam três doses do
imunógeno a cada 14 dias. Os grupos foram divididos em: G1 (controle- óleo
mineral), G2 (Ag+ adjuvante incompleto de freund), G3 (Ag + adjuvante completo de
freund) e G4 (Ag + adjuvante incompleto de freund + própolis). Para preparação da
vacina foi utilizado um isolado de S. schenckii na forma leveduriforme proveniente de
um caso de esporotricose cutânea de felino doméstico. O fungo foi cultivado em
meio líquido (Brain-Heart broth), incubado durante 10 dias a 37oC e mantido sob
agitação constante para obtenção da forma leveduriforme. A cultura foi filtrada em
dupla camada de gaze estéril, centrifugada, lavada duas vezes com solução salina
tamponada (PBS), homogeneizada e padronizada em 108 células de S. schenckii/
ml. As células foram inativadas com thimerosal a 0,02% e posteriormente
emulsificadas com óleo mineral, sendo as vacinas acondicionadas em frascos
estéreis fechados e mantidas a temperatura de 40C durante todo o período
experimental. Foi utilizada uma dose de 0,1 ml/animal por via intramuscular. Os ratos
que receberem a vacina como imunoprofilaxia após as três doses foram desafiados,
sendo inoculados por via subcutânea com 2X103 células/ml de S. schenckii e
avaliados durante 10 dias. Os animais tratados com imunoterápico foram inoculados
com o agente e após 14 dias receberam três doses do imunógeno. Após o período
experimental todos foram eutanasiados e feita necropsia para realização de análise
micológica, histopatológica e contagem das Unidades Formadoras de Colônias.
Os resultados obtidos foram: na imunoprofilaxia as alterações anatomopatológicas
demonstraram diferença estatísticamente significativa (P<0,05) dos grupos
vacinados (G2, G3 e G4) quando comparados ao grupo controle (G1) em relação ao
ponto de inoculação, não havendo diferença estatística na avaliação dos órgãos
internos. Na imunoterapia a avaliação clínica no ponto de inoculação evidenciou que
não houve diferença estatística entre os quatro grupos experimentais, porém ao final
do experimento os grupos G1, G2, G3 e G4 apresentavam respectivamente 8,3%,
58,3%, 41,7% e 50% das lesões em processo de regressão e cicatrização. Em
relação a lesões em outras áreas corpóreas somente na última semana do
experimento os grupos G2 e G3 diferiram estatisticamente (P<0,05) do grupo
controle (G1). Alterações anatomopatológicas foram encontradas nos órgãos
internos dos quatro grupos experimentais, porém com um maior numero de lesões
nos animais do grupo CONT. Tanto na imunoprofilaxia quanto na imunoterapia o
retroisolamento do agente e Contagem das Unidades Formadoras de colônias
demonstraram que houve crescimento do S. schenckii nos quatro grupos
experimentais, porém com menor freqüência e quantificação de UFCs no ponto de
inoculação e órgãos internos dos grupos G2, G3 e G4. Na avaliação histopatológica
foi verificada a presença de granulomas e piogranulomas focais e multifocais no
ponto de inoculação e órgãos internos dos quatro grupos, porém os animais que
receberam imunoprofilático as alterações ficaram mais restritas ao ponto de
inoculação. Os resultados permitem concluir que as três formulações de vacinas
(AIF, ACF e AIFP) utilizadas como imunoprofilático e imunoterápico não foram
eficazes para a remissão completa das lesões de esporotricose cutânea
experimental.