Anos Iniciais da Escolarização e Relações de Gênero: representações de docentes sobre gênero
Resumen
O principal objetivo deste trabalho foi analisar o que os discursos, as práticas docentes e as interações professor/a alunos/as mostram sobre as relações de gênero . Para dar conta deste objetivo mais amplo, algumas questões que nortearam o trabalho foram: quais as representações do
professorado sobre meninos e meninas, homens e mulheres?; o que o ambiente da sala de aula e a forma como este está organizado, diz sobre as relações que podem se constituir neste local?; como são tratadas as feminilidades e as masculinidades nas práticas docentes? que tipos de
trabalhos são desenvolvidos em sala de aula?; como o professorado se dirige às meninas e aos meninos?
O referencial teórico para sustentar a análise dos dados de campo conta com uma breve revisão da teoria social feminista, a partir, dentre outras, de Joan Scott, Guacira Louro e Maria Custódia da Rocha. Conta ainda com uma reflexão sobre educação e gênero, na qual se busca elucidar o conceito de
gênero e algumas formas como é usado; como também a relação deste conceito com a docência, quando se retoma um pouco da história da docência e o processo de feminização do magistério. É feita, ainda, uma reflexão sobre como as diferenças escolares vão sendo construídas e são retomados alguns trabalhos acadêmicos que tiveram como objeto de estudo gênero na escola . Além do já exposto, no aporte teórico são considerados alguns conceitos dos estudos culturais, como identidade e representação, sobre como vamos
nos criando e sendo criados/as como seres sociais a partir das representações que temos e que tem o mundo que nos circunda. Os sujeitos de pesquisa foram três docentes: duas professoras e um professor. A metodologia utilizada foi entrevistas semi-estruturadas e observações. Foi possível perceber três docentes e três jeitos diferentes de lidar com as situações de conflito ou desigualdade de gênero que aparecem
em suas salas de aula. Três jeitos de entender o ser homem e o ser mulher , o ser menino e o ser menina . Docentes que lutam para desmistificar verdades acerca de gênero, mas que deixam transparecer, ainda que de forma diferente, representações semelhantes sobre o lugar de homens e
mulheres, em especial na docência, mesmo que não concordem com estas definições sociais e culturais. O que percebemos a partir da pesquisa é que, mesmo que os sujeitos tenham clareza das questões de gênero, ainda há certa representação de que a docência é uma ocupação feminina, mesmo que este/estas docentes sejam contrários a isso. Sobre a representação de meninos e meninas, não percebi diferenças no modo como estas professoras e este professor encaram meninos e meninas com relação ao desempenho. O que já muda de figura, quando o assunto é comportamento. Acredita-se que este estudo contribuirá para uma maior reflexão sobre
as relações de gênero, em especial no âmbito escolar, onde não acontecem muitas pesquisas deste tipo. Esperamos assim, contribuir para o meio acadêmico e escolar com mais um estudo empírico, dos não muitos existentes.