O valor simbólico da leitura: cartas (auto)biográficas de leitores professores
Resumen
O presente trabalho construiu-se na linha de Pesquisa Cultura Escrita: linguagens e aprendizagem, no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Pelotas, no interior do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Imaginário, Educação e Memória (GEPIEM). Tem como objetivo principal investigar qual é o valor simbólico atribuído à leitura nos trajetos (como leitores) dos sujeitos participantes deste estudo; ou seja, o foco principal desta pesquisa é dirigido aos núcleos simbólicos que afloram quando em processos (auto)biográficos cada pessoa se narra. O estudo efetuado para esta tese sustenta-se em um tríplice referencial teórico: (Auto)Biografia Educativa como Trajeto de Formação relacionado à Leitura, Antropologia do Imaginário e Antropologia da Leitura. O aporte metodológico, de caráter qualitativo sócio-fenomenológico, vinculou-se, em especial, à metodologia de convergências proposta por Gilbert Durand, ligada à Antropologia do Imaginário. A tese que emerge é a de que a leitura, inserida no cotidiano, pode atuar como um equilibrador biopsicossocial, auxiliando na formação do sujeito e na internalização de valores no decurso do trajeto de vida, abrangendo, de modo indireto, seus impasses individuais, conduzindo ao autoconhecimento, ao conhecimento do outro e ao conhecimento do mundo. A investigação foi realizada a partir de dezoito (18) cartas escritas por leitores professores que vivem e trabalham na região sul do Rio Grande do Sul (Pelotas e municípios vizinhos: Rio Grande, Canguçu e São Lourenço do Sul). Os núcleos simbólicos percebidos nas narrativas foram agrupados (por afinidades simbólicas) em três mitemas: Aventura Descoberta Construção, Ferramenta, Refúgio Cura Esteio. Tais núcleos simbólicos, reunidos em mitemas, denotam polarizações referentes aos Regimes (Diurno e Noturno) estudados pelo viés da Antropologia do Imaginário. Os resultados da pesquisa demonstram que cada pessoa atribui um valor simbólico à leitura e que esse varia de indivíduo para indivíduo. Lê-se por prazer e por necessidade. Os leitores ávidos‟ encontram maneiras de conseguir seus objetos de leitura, independentemente de suas condições de vida. Também foi constatado que o processo de se (auto)biografar desencadeia (tanto em quem escreve quanto em quem lê) um processo de contemplação da vida. Na perspectiva de investigar o fenômeno da leitura, entrelaçando perspectivas teóricas diferentes, mas ao mesmo tempo convergentes, esse processo é percebido como uma importante experiência de formação, o qual demonstra que a leitura, como uma tecnologia do Imaginário, de fato se constitui em um significativo equilibrador biopsicossocial.