Potencial arqueológico de Cruz Alta: propostas para uma arqueologia da cidade
Resumo
A cidade de Cruz Alta, no noroeste do estado do Rio Grande do Sul,
reconhece a si mesma como uma cidade histórica. Fundada em 1821 em um
contexto de disputas de fronteiras entre Portugal e Espanha, a história oficial do
município dá ênfase em alguns elementos de seu passado, como a ocupação inicial
da área enquanto uma rota de comércio de gado, período no qual as populações
indígenas são rechaçadas da região e da história local. Sua história é em geral a das
elites brancas e rurais, e raramente a dos pobres, dos escravos, ou do cotidiano.
Estas histórias são assumidas como o verdadeiro passado, herança de seus
habitantes. O patrimônio cultural do município reproduz esta lógica, uma vez que
atua basicamente em bens arquitetônicos que se referem em geral às mesmas
elites. Narrativas históricas e discursos patrimoniais são os meios pelos quais uma
cidade representa seu passado, e assim o passado da cidade aparece simplificado,
sem conflitos e sem contemplar a diversidade de cenários e atores sociais que
compõem a história da cidade. Uma arqueologia da cidade pode dar conta do
enorme potencial arqueológico da área central da cidade, e trazer aos debates estes
outros atores. O levantamento historiográfico e o uso de fotos e plantas históricas
permitiram traçar o processo de ocupação da cidade, e assim identificar áreas de
potencial arqueológico, destacando as possibilidades interpretativas de seu estudo.
A área central da cidade foi dividida em três camadas arqueológicas identificadas
pelo período ao qual se referem, e nestas três camadas, alguns lugares específicos
foram identificados por suas potencialidades. Como resultado, é proposta uma carta
arqueológica que permite localizar na cidade atual as áreas de interesse
arqueológico