Sobre o mal-estar docente: constituindo percepções a partir de um grupo de professores da rede pública estadual de ensino do RS, Pelotas
Resumo
Este trabalho se ocupa de uma investigação acerca da temática denominada mal-estar docente, abordada segundo Esteve (1999). Têm como lócus de pesquisa a cidade de Rio Grande/RS e sujeitos, os professores da rede pública estadual de ensino. Objetiva verificar o número de afastamentos oficiais desses profissionais das suas atividades de trabalho nos anos de 2010 e 2011, bem como problematizar tal ocorrência. A intenção de averiguar a incidência do fenômeno parte das observações empíricas, as quais detectaram um número elevado de ausências da prática docente e a existência de um discurso queixoso recorrente, sobre a professoralidade e o âmbito educacional. Optou-se por uma abordagem mista de pesquisa, articulando revisão bibliográfica, documental, utilização de um questionário padrão (JBELLI, 2012), ação intervencionista baseada em ateliês de escrileituras (CORAZZA, 2010) e entrevistas semiestruturadas. O embasamento teórico teve Freud (1969) como propulsor para os estudos sobre o mal-estar, sendo complementado por pesquisas contemporâneas voltadas especificamente para o tema, como Vieira et al. (2010), Fernández (2011), Timm, Mosquera e Stobaus (2010), Mendes et al (2011), Levy e Sobrinho (2010) e Costa (2005). Somam-se a esse conjunto, Veiga-Neto (2011), Deleuze (1988), Guattari (1992). Tais fundamentos subsidiaram o processo de análise, que foi constituído de acordo com os procedimentos metodológicos adotados. Para a realização da pesquisa documental, contatou-se o Posto de Saúde, o Núcleo Municipal de Educação Permanente em Saúde (NEPES) e o Sindicato dos Professores do Rio Grande do Sul (CPERS), os quais apontaram um alto índice de ausências docentes nos mencionados anos. O questionário padrão (JBEILI, 2012) foi respondido por vinte e três educadores, indicando que 43% apresentaram a chance de desenvolver o fenômeno. As informações qualitativas foram averiguadas por meio das produções escrileituradas constituídas nos ateliês e, pelos depoimentos dos professores nas entrevistas. A análise das escrileituras permitiu constatar que as preconcepções sobre o fenômeno foram colocadas à prova, desde uma experiência que força o pensamento a deslocar-se, na tentativa de problematizar o assunto. Nesse sentido, apreensões tais como a influência de um discurso que deprecia a professoralidade e a suspeita acerca dos índices quantitativos que indicam a manifestação do mal-estar docente foram consideradas. A fala dos educadores ao serem entrevistados, demonstrou que há incidência do tema, derivada principalmente das práticas desgastantes de trabalho. No entanto, também se percebeu que existem vivências de satisfação no ambiente profissional, oriundas da afetividade e do diálogo com os colegas.
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