dc.description.abstract | É justo dizer que A Origem das Espécies (1859) tenha sido talvez um dos
livros mais importantes publicados nos últimos dois séculos. Em primeiro lugar,
porque é um dos pilares da biologia praticada atualmente, contrariando assim o
veredito dado por Immanuel Kant, em 1790, de que jamais haveria “um Newton da
folha de relva”. Embora não seja o caso de toda a pesquisa biológica feita atualmente
ser devedora de A Origem, seria difícil não avalialas num enquadramento evolutivo
mais amplo, seja para confirmar a teoria da seleção natural, refutála ou imporlhe
contornos mais precisos. Em segundo lugar, porque seu alcance rapidamente
extrapolou o domínio estritamente biológico. A ideia de que a seleção natural é o
principal mecanismo causal responsável pela esplendorosa diversidade no mundo
teve impacto imediato em outras áreas. Na teologia, por exemplo, os criacionistas
literais tiveram de lidar não só com uma explicação do mundo vivo que dispensava
o apelo a causas sobrenaturais, como também com uma nova perspectiva sobre a
relação entre as espécies existentes (agora vistas como ligadas por ancestrais
comuns) e a escala de tempo necessária para a sua produção (não mais vista sob
a ótica dos pouco mais que quarto mil “anos calculados” pelo bispo Ussher em
1650). Do ponto de vista cultural mais amplo, ajudou a retirar o homem do centro
da criação, dandolhe contornos animais cujas características físicas e mentais são
nada mais do que o resultado de milhões de anos de evolução. Não que também
não tenha influenciado negativamente a sociedade: defensores do dito darwinismo social, por exemplo, usaram as ideias evolutivas de Darwin de maneira equivocada
e distorcidas para justificar preconceitos de raça, classe, etnia, etc. Felizmente, o
exame e discussão amplos dessas ideias (tanto no âmbito acadêmico quanto no
mundo das letras), assim como as mudanças culturais mais amplas, garantiram
que tais ideias ficassem apenas como parte de um passado já superado. | pt_BR |