Análise multidimensional das pressões dos sistemas de produção agrícola na Bacia Hidrográfica do Rio Guaporé (Brasil/RS)
Resumo
As atividades agrícolas desenvolvidas para atender às necessidades humanas
exercem tensões no meio ambiente, de forma que sua quantificação é uma tarefa
complexa. Por conseguinte, o objetivo desta investigação é analisar as pressões dos
sistemas de produção agrícola familiares sobre a dinâmica da água na Bacia
Hidrográfica do Rio Guaporé (RS). Para tanto, com base em pesquisa documental,
bibliográfica e de campo, e com informações coletados junto a atores locais e peritos
da área de recursos hídricos e gestão de bacias hidrográficas, estruturou-se um
modelo multidimensional de avaliação que combina sete critérios e 25 subcritérios
para duas grandes áreas: (i) ocupação da terra e manejo do solo e (ii) resíduos e
descartes agrícolas. O modelo foi testado em 14 estabelecimentos agrícolas
familiares, que representam quatro arranjos produtivos desenvolvidos na bacia
hidrográfica: sistema produção de grãos de sequeiro, lavouras convencionais,
integração animal e explorações perenes. Os resultados demonstram que, embora os
sistemas de produção desenvolvidos tenham evoluído e se adaptado as novas
conjunturas técnicas e socioeconômicas, ocupam ambientes frágeis ecologicamente,
em particular no que se refere ao uso de terras com baixa aptidão agrícola e, muitas
vezes, são executados com ausência de práticas conservacionistas e manejo
inadequado dos recursos naturais. Com base no modelo elaborado, o cultivo de
tabaco, escolhido para representar as lavouras convencionais, demonstra maior
interferência negativa nos sistemas aquáticos. Esta performance é consequência das
constantes remoções dos solos (rasos e com elevado potencial de erodibilidade)
situados nas encostas (geralmente com declividade acima de 16 graus) associada à
reduzida adoção de práticas conservacionistas. Em contraste, o sistema de
explorações perenes, avaliado sob o cultivo de erva-mate, expressou os melhores
resultados para manutenção dos recursos hídricos. Ajustes referentes à ocupação de
terras podem levar este sistema a apresentar impactos ainda menos nocivos ao
ambiente. Entre estes dois sistemas, encontram-se os desempenhos dos cultivos de
grãos de sequeiro e a criação de animais. O primeiro deles, retratado pelo cultivo de
soja, ocupa a região com características naturais do ambiente e do solo favoráveis
para cultivos agrícolas, contudo, o consumo exacerbado de agrotóxico compromete o
desempenho do sistema. Já no sistema que envolve a criação de suínos e bovinos, o
uso contínuo de doses elevadas de dejetos animais, que aumenta a propensão de
transferências de poluentes para os corpos hídricos, justifica o desempenho negativo
perante o modelo de avaliação utilizado. É importante comunicar que se trata de uma
avaliação inicial, sendo assim, da perspectiva metodológica, a investigação sinaliza
um ponto de partida para estudos interessados em indicadores ambientais para as
atividades agrícolas.
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