Memórias traumáticas da ditadura civil-militar no Brasil e na Argentina a partir dos usos de retratos de mortos e desaparecidos nas Instituições de Memória e Manifestações Sociais

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Data
2021-04-28Autor
Dias, Kátia Helena Rodrigues
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A pesquisa doutoral apresentada nesta tese teve como objeto de estudo os usos
atribuídos aos retratos de mortos e desaparecidos das ditaduras civis-militares
ocorridas no Brasil (1964–1985) e na Argentina (1976–1983). A violência política
proveniente do Estado teve como saldo traumático um clima generalizado de terror
na sociedade daquela época e vitimou, de forma direta e indireta, centenas de
milhares de pessoas, entre as quais muitas estão mortas ou desaparecidas.
Restaram as memórias traumáticas de um passado recente que se apresenta entre
a dicotomia do lembrar e do esquecer e a luta por reparação. O campo de
observação da pesquisa teve como ponto de partida o contexto mencionado e os
processos de transição política e redemocratização de cada país. Nesse sentido, é
importante destacar o papel dos atores sociais como protagonistas e sujeitos ativos
nos processos reivindicatórios de memória, verdade e justiça dos contextos relativos
às memórias traumáticas provenientes do período autoritário e repressivo das
ditaduras civis-militares nesses países. Observou-se que esses sujeitos utilizam
retratos como instrumento de testemunho, denúncia e luta pela memória daquele
passado. Buscou-se conhecer em que medida esses retratos, os quais foram
incorporados na cena pública como potentes dispositivos de sensibilização e
transformação de sentidos, impactaram na consolidação das políticas de memória
de cada um dos países. A metodologia empregada no trabalho foi o estudo
comparativo oportunizado pela pesquisa de campo aplicada na análise dos usos
atribuídos aos retratos. Tal método demostrou-se útil ao comparar dois casos
similares em seus contextos de origem e nos usos dados aos retratos inseridos
nesse campo de observação e indicou as seguintes fontes: a) retratos expostos nas
Instituições de Memória provenientes das políticas de memória; e b) retratos
empunhados ou carregados nas Manifestações Sociais organizadas a partir dos
atores sociais em conjunto com a sociedade. Em ambos os casos essas ações
tiveram o propósito de dar visibilidade à memória da ditadura e ao que ela
representou, além de homenagear as vítimas. O uso intensificado e continuado dos
retratos de mortos e desaparecidos, o modo como eles são apresentados, a carga
de emoção agregada e a visibilidade dada aos usos podem ter contribuído para uma
maior sensibilização à causa relativa às memórias traumáticas e às violações de
direitos humanos e, portanto, maior solidarização da sociedade de um país em
comparação à de outro. Essa visibilidade e esse apoio foram fundamentais para a
formulação e implementação de políticas de memória e os retratos foram utilizados
como potentes instrumentos reivindicatórios de reparação, reconhecimento e não
esquecimento.
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