“Camperiar em campos lisos é diferente de camperiar em campos de pedra” e de banhados: uma etnografia das paisagens da pampa brasileira.

Abstract

Partindo de um diálogo com Ingold (2015) de que as paisagens não são algo fixo que se apresentam aos nossos olhos, mas são experienciadas no ato de viver a vida pela imersão nos fluxos, tecidos pelo envolvimento junto aos outros entes que a habitam, propomos trazer a etnografia dos modos de vida em três diferentes paisagens da pampa, localizadas no sul do Brasil: nos campos lisos, nos campos de pedra e nos campos de banhados. A afirmação dos/as trabalhadores/as da pecuária de que “camperiar em campos de pedra é diferente de camperiar em campos lisos” nos conduz a um questionamento das narrativas acerca da homogeneidade da paisagem pampeana. Por conseguinte, as aprendizagens que envolvem os manejos pecuários para os humanos são estendidas aos bichos e estão relacionadas aos diferentes contextos. Por exemplo, a região do Alto Camaquã é de campos de pedra e, coloca-se enquanto local de reprodução dos rebanhos de bovinos, ovinos e caprinos, que são vendidos para outras localidades. Conforme Vera Colares, pecuarista familiar moradora desta região, “os animais das Palmas são para qualquer lugar no mundo, eles aprendem o que comer e o que não comer, como o timbó ou mio-mio [plantas tóxicas] em função da biodiversidade”. E, por sua vez, os humanos também aprendem a não comer estas plantas. Assim, a relacionalidade de humanos, outros animais e paisagens pode ser evidenciada nas aprendizagens dos manejos pecuários em que diferentes seres se engajam e conformam modos de vida campeiros.