dc.description.abstract | Neste texto discutimos, a partir da descrição etnográfica da técnica da amanonciação, a
noção de artesanato de Richard Sennett (2013) para quem o pensamento e o sentimento estão
contidos no processo do fazer artesanal. Os movimentos aliados ao tato e as diferentes maneiras
de segurar e tocar com as mãos afetam a maneira de pensar e constituem, no caso deste texto, a
habilidade artesanal para a lida com os cavalos. No contexto do pampa, desenvolveram-se formas
de sociabilidade a partir das estreitas relações estabelecidas entre humanos com os não humanos
e cujas possibilidades se pode apreender, etnograficamente, por meio do estudo das diferentes
técnicas de manejo dos animais. No caso do ofício da doma de cavalos, que é um saber e modo
de fazer que busca ensinar equinos para as práticas relacionadas aos trabalhos que envolvem a
pecuária extensiva, desde as etapas iniciais do processo técnico, humanos e animais não humanos
estabelecem formas de comunicação pelo envolvimento em forma de práticas corporais. O artigo
consiste em pensar a relação entre o domador e o cavalo nos estágios iniciais da doma
considerando os seus encontros corporais, especificamente no que se refere ao encontro da mão
do domador com o corpo equino. A técnica da amanonciação consiste na primeira etapa do
trabalho de ensinar cavalos em que o domador busca uma aproximação com o animal visando
acostumá-lo com a mão que vai tocando as diferentes partes do seu corpo, processo que chamam
“ir tirando as cóscas”. O estabelecimento de uma comunicação a partir da linguagem verbal e
principalmente corporal, junto da mediação dos artefatos, consiste nos principais atributos desta
técnica. A percepção dos domadores referente a uma sensação corpórea do cavalo, que vai de um
toque de mão que parece que queima e desconforta à um toque que acaricia e que gera sensação
de conforto, nos convida a um conjunto de reflexões acerca do encontro entre o animal humano
e o animal não humano no processo técnico. O toque da mão do domador que desenvolveu a
habilidade de tocar por meio da sensibilização da ponta dos dedos engendra pensar o aprendizado
e a construção do artífice domador pela relacionalidade com os animais não humanos, os artefatos
e os ambientes. | pt_BR |