Lustitia et Misericordia: o conceito de justiça na obra de Santo Agostinho.
Resumo
O conceito de justiça no pensamento de Santo Agostinho tem na sua base o princípio platônico que reza ser a justiça “dar a cada um o que lhe compete com sabedoria e harmonia”. Em Agostinho esta ideia é pensada sobre a perspectiva cristã que pressupõe a presença e a ação de Deus na Ordem. Neste horizonte o problema do mal, concebido pelo autor como um tema de caráter moral, torna-se uma questão de primeira ordem no desenvolvimento do conceito de justiça. Agostinho entende que o mal não é uma natureza metafísica que se assemelha a Deus ou a qualquer criatura, mas uma disfunção da realidade criada que decorre de uma desordem na ação dos seres livres, pelo que eles são justamente punidos e recebem a devida pena. Todavia, isto não os impede de viver na Ordem enquanto pecadores; Deus, portanto, integra o mal na Ordem preservando a natureza, ainda que maculada, dos pecadores. A pena decorrente da punição na queda dos primeiros homens se torna a marca definidora da situação moral dos indivíduos humanos na história. Uma condição débil e fraca, especialmente para realizar a virtude. Para tanto eles precisam ser ajudados por Deus, o que ocorre mediante a ação da graça. Ela é um ato livre de Deus que perdoa os seres humanos do mal de pena que limita sua natureza para a virtude, permitindo que com liberdade eles possam vislumbrar a justiça como uma virtude factível na realidade humana. Assim, a justiça, em Agostinho, pressupõe sempre um dom de Deus. Sua plenitude, a vera iustitia, está para o homem como meta, como horizonte a ser buscado na fé e na perseverança das boas obras, e não como mérito de suas próprias forças.
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