Conservação ex situ e biologia reprodutiva da espinheira santa (Maytenus ilicifolia, Celastraceae)
Resumo
A espinheira-santa (Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissek) é uma planta medicinal
nativa do Brasil utilizada no tratamento de gastrites e úlceras gástricas. Para
conservar a variabilidade genética dessa espécie, 129 acessos provenientes de 15
municípios do Rio Grande do Sul são mantidos no Banco Ativo de Germoplasma de
Espinheira-Santa da Embrapa Clima Temperado em parceria com o Instituto Federal
Sul-rio-grandense. Essa Tese teve como objetivo contribuir para o avanço do
conhecimento relacionado à biologia reprodutiva de M. ilicifolia. Foram feitas
avaliações da biologia floral, da fenologia reprodutiva, do sistema reprodutivo e dos
polinizadores e dispersores de sementes. As fenofases de botão floral, antese floral,
fruto maduro e imaturo foram avaliadas mensalmente. Os visitantes florais foram
observados no período de floração e classificados em polinizadores ou pilhadores de
néctar. As aves que consumiram os frutos foram registradas no período de
maturação, sendo consideradas dispersoras de sementes as que engoliram os
diásporos (arilo e sementes) inteiros. Foi verificado que as flores têm antese diurna,
são morfologicamente hermafroditas, semelhantes no tamanho, formato e coloração,
mas apresentam comportamento de flores funcionalmente femininas (produzem
frutos) ou flores funcionalmente masculinas (produzem pólen), raramente
hermafroditas. As flores funcionalmente femininas e masculinas produzem óvulos e
pólen, e o estigma é receptivo. O ovário das flores funcionalmente masculinas não
forma frutos. O pólen é fértil em ambos os morfotipos florais. Todavia, nas flores
funcionalmente femininas não ocorre pólen em 37% das anteras e nas demais foi
registrado apenas quatro grãos, em média. As flores funcionalmente masculinas e
funcionalmente femininas ocorrem em diferentes plantas, caracterizando a espécie
como funcionalmente dioica. Somente flores funcionalmente femininas e
hermafroditas originaram frutos por polinização cruzada e geitonogamia,
caracterizando autoincompatibilidade na espinheira-santa. O período reprodutivo
ocorreu de junho, com a emissão dos botões florais, até fevereiro, com a maturação
dos frutos. Os polinizadores são as moscas, com destaque para Lucilia eximia e
Limnophora sp., e as vespas, com destaque para Brachygastra melifica, Polistes
canadensis e uma espécie da família Tiphiidae. Oito espécies de aves consumiram
diásporos, atuando como dispersoras, com destaque para Tangara sayaca, Elaenia
sp. e Pipraeidea bonariensis. M. ilicifolia é uma espécie alógama, apresentando
morfologia floral compatível com a polinização entomófila e generalista. As fenofases
reprodutivas estão correlacionadas com a temperatura e o comprimento do dia, e o
início da floração depende da latitude. Esta tese contribui para o avanço do
conhecimento sobre a biologia reprodutiva de espinheira-santa, apresentando
informações relevantes para a conservação e uso deste importante recurso
genético.
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