Uma arqueologia das paisagens da escravidão na cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul (1832-1850)
Resumo
Esta dissertação analisa como a construção política e cultural da paisagem, instituiu formas de governo e de resistência dos escravos, bem como foi parte fundamental da consolidação do sistema escravista na cidade de Pelotas, durante a primeira metade do séc. XIX (1832-1850). Destacam-se neste estudo
duas escalas da paisagem pelotense. A macro-espacialidade da escravidão é trazida pela análise dos documentos administrativos (Atas e Posturas da Câmara Municipal de Pelotas). A micro-espacialidade da escravidão é exemplificada pela análise arqueológica da paisagem de uma unidade produtiva escravista (charqueada São João). Nesse sentido, faz-se o diálogo entre os preceitos das
Arqueologias da Escravidão, Documental e da Paisagem. Em ambas escalas de analise, evidenciam-se o uso e atuação da paisagem enquanto um dispositivo de controle do escravo. Em contrapartida, revelam-se as re-interpretações e manipulações criativas empreendidas pelos escravos frente aos dispositivos materiais que visavam o controle de seus corpos. Este estudo revelou alguns
aspectos centrais do entendimento do sistema escravista, dentre estes: o uso de dispositivos materiais de controle por parte das autoridades locais, no intuito de estabelecer um cerceamento da circulação dos escravos no espaço público;; as resistências materiais dos escravos e o uso criativo dos espaços para o desenvolvimento das sociabilidades, alheias ao poder disciplinador;; a constatação de que os corpos dos escravos, enquanto unidade ou um contingente configuraram-se enquanto componentes materiais da paisagem;; a conformação mútua entre as matas da Serra dos Tapes e a identidade
quilombola de forma geral. Ademais, verificaram-se as características do processo de normatização dos espaços empreendido pelas autoridades pelotenses. Este processo é exemplificado pela tentativa de dinamizar a fluidez do comércio local e da circulação de pessoas e objetos;; a busca por instituir uma hierarquização entre as áreas da cidade, principalmente por meio da eleição de tipos construtivos padronizados para zona urbana e a exclusão de outros;; bem como a autoridade ou controle sobre as construções e modificações na paisagem e sobre a circulação de produtos e pessoas nos espaços e vias da cidade, para fins de taxação e cobrança de impostos. A análise da charqueada São João e da disposição de suas estruturas na paisagem, constatou em linhas gerais, sua configuração de centralidade com relação ao sistema produtivo e de proximidade entre suas estruturas (as de moradia e as relacionadas ao espaço produtivo). Esta configuração, com variações locais, aparece em distintos
contextos escravistas do novo mundo.
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