A influência da exposição e retirada de uma dieta de cafeteira sobre os parâmetros comportamentais, metabólicos e neuroquímicos de ratos Wistar
Resumo
Nas últimas décadas o Brasil vem passando por um processo de transição nutricional, caracterizado pelo rápido declínio da prevalência de desnutrição e elevado aumento das taxas de sobrepeso/obesidade. E sabe-se que hábitos alimentares desregrados, como por exemplo, o consumo frequente de fast food, elevado consumo de alimentos com alto teor calórico e de gordura, alimentos com baixo teor de fibra e ingestão excessiva de bebidas adoçadas são fatores de risco para obesidade. Sendo assim, utilizamos a dieta de cafeteria, com o objetivo de avaliar as alterações comportamentais e neuroendócrinas do consumo crônico e retirada permanente desta dieta palatável durante as fases do desenvolvimento. A dieta de cafeteria foi composta por alimentos palatáveis: salgadinho, wafer, biscoito recheado, salsicha e leite condensado. Os grupos que recebiam essa dieta possuíam a livre escolha para consumo contínuo de água e ração padrão. Os animais receberam as dietas a partir do 21° dia de vida e o experimento durou 7 semanas. Foram utilizados 36 ratos Wistar machos, divididos em 3 grupos, controle (C), que recebeu dieta padrão, dieta de cafeteria (DC) que recebeu dieta de cafeteria do 21º dia de vida até o 70º dia de vida, e retirada (R) que recebeu dieta de cafeteria até o 35º dia de vida, sendo ela depois substituída por ração padrão até 70º dia de vida. Como era esperado, o consumo de dieta de cafeteria em alguma fase da vida, aumentou o peso corporal dos animais quando comparado ao controle. Os animais do grupo DC apresentaram um indicativo de comportamento ansioso, na tarefa do campo aberto, pois apresentaram uma maior latência para sair do primeiro quadrado e explorar o aparato. O consumo crônico desta dieta levou a alterações metabólicas periféricas como aumento da glicemia, aumento da leptina plasmática, assim como, aumento da gordura abdominal, inguinal e aumento do peso das adrenais. No entanto quando a DC foi retirada na adolescência esses parâmetros metabólicos retornaram aos mesmos níveis dos animais que receberam apenas ração padrão. No hipocampo, foram observadas alterações como, diminuição na expressão de receptores de glicocorticoides (GR), da proteína oxido nítrico sintase neuronal (nNos) e no receptor tropomiosina Cinase B (TRKB), e uma resposta oxidativa celular equilibrada. Contudo, esses achados indicam que a dieta de cafeteria ao longo da vida induziu um comportamento ansioso que, em parte, pode ser justificado pela as alterações neuroendócrinas encontradas tanto no metabolismo periférico como no hipocampo destes animais. Além disso, interessante é que a retirada abrupta no período da adolescência foi capaz de reverter, pelo menos em parte, algumas destas alterações.

