Jetlag social é semelhante ao jetlag transmeridional? Resultados de um estudo de validação com estudantes universitários de uma universidade do sul do Brasil
Resumo
Dormir é uma atividade que faz parte das necessidades básicas do ser
humano. É um processo no qual a atividade mental e estado de consciência
são alterados por uma série de mecanismos, regulados pelo ciclo sono-vigília
(BENEDITO-SILVA, 2008). De acordo com as recomendações da Fundação
Americana do Sono (National Sleep Foundation), adultos jovens deveriam
dormir de 7 a 9 horas por noite, havendo variabilidade interindividual no tempo
de sono necessário.
Assim como o tempo necessário de descanso, outras características
individuais de sono, como horários de início e de despertar, são determinadas
tanto por fatores biológicos, como o ritmo circadiano ou cronotipo, quanto por
comportamentais e ambientais, como hábitos de saúde, relações sociais e
exposição à luz (ROENNEBERG; WIRZ-JUSTICE; MERROW, 2013).
O cronotipo (ou perfil de ritmo circadiano ou perfil de relógio biológico) é
um dos fatores biológicos que diz respeito às preferências individuais por
alocar horários de sono e atividades durante as 24 horas do dia, sendo um
importante determinante dos horários de início sono e de despertar
(ROENNEBERG et al., 2007; WITTMANN et al., 2006). O ritmo circadiano,
entretanto, pode não ser perfeitamente alinhado com o relógio social ou
comercial, uma vez que a sociedade tem exigências de horários de vigília que,
muitas vezes, impossibilitam que os indivíduos respeitem suas preferências
biológicas de sono, tornando comum o uso de despertador para atender a
demanda social em dias de trabalho. Indivíduos que são mais ativos durante o
fim do dia, e, por consequência, dormem mais tarde na noite, podem ter o
tempo de duração de sono diminuído em função das necessidades sociais de
despertar cedo na manhã durante dias de atividades, como aula e trabalho,
gerando um débito de sono a ser recompensado durante os finais de semana
ou dias de folga, nos quais pode respeitar seu relógio biológico
(ROENNEBERG et al., 2015).
A saída e retorno crônico às preferências biológicas de horários de sono
em dias de trabalho e de folga toda semana é denominada jetlag social (JLS).
Esse termo faz analogia ao jetlag causado por viagens, no qual o indivíduo
sofre uma série se sintomas e desconfortos por atravessar diversos fusoshorários até adaptar-se a essa mudança (WITTMANN et al., 2006).10
Diferentemente do jetlag de viagens, que são eventos esporádicos e
passageiros, o JLS pode ser entendido como um padrão crônico de
dessincronização entre os relógios biológico e social. Associações com
comportamentos pouco saudáveis, como tabagismo (WITTMANN et al., 2006),
e inatividade física (RUTTERS et al., 2014), bem como com obesidade
(ROENNEBERG et al., 2012), disfunções metabólicas (PARSONS et al., 2015;
WONG et al.,2015) e transtornos psiquiátricos (POLUGRUDOV et al., 2016)
têm sido relatados na literatura sobre JLS que também está associado a pior
performance acadêmica entre universitários (BEAUVALET et al., 2017).
A prevalência estimada de JLS no estudo mais abrangente de base
populacional até o momento foi de 33%, considerando duas horas ou mais de
JLS, sendo mais frequente em indivíduos com idades entre 16 e 20 anos
(ROENNEBERG et al., 2012). Apesar de este grupo corresponder à faixa etária
habitual de ingresso à universidade, estudos conduzidos com estudantes
universitários são escassos e com amostras restritas a pequenos grupos. Dada
a alta prevalência de JLS na sociedade, principalmente entre jovens
(ROENNEBERG et al., 2012), e considerando que JLS pode ser um
determinante de diversos desfechos em saúde e indicadores escolares pouco
explorado na literatura (BEAUVALET et al., 2017), sobretudo na população
brasileira, há a necessidade de investigar sua ocorrência e distribuição
segundo variáveis sociodemográficas e comportamentais em uma população
de estudantes universitários. Portanto, o objetivo deste estudo será investigar a
ocorrência de JLS e seus fatores associados entre toda população de
estudantes universitários ingressantes no primeiro semestre do ano de 2017 na
Universidade Federal de Pelotas (UFPel)

