Avaliação do papel de fatores genéticos e alimentares no microbioma intestinal humano na adolescência
Resumo
O microbioma intestinal caracteriza-se como um ecossistema complexo de espécies de microrganismos que habitam o intestino e modulam a relação entre o hospedeiro e os processos de homeostase e doença. A formação da comunidade bacteriana intestinal sofre drásticas transformações durante o desenvolvimento do indivíduo e mudanças substanciais ocorrem desde o início da vida até o envelhecimento. Fatores genéticos influenciam neste processo, assim como fatores ambientais precoces e determinantes para a colonização de bactérias no intestino, como tipo de parto, aleitamento, alimentação, nível socioeconômico, atividade física, dentre outros. O objetivo principal do presente projeto consiste em investigar a associação entre fatores genéticos e alimentares, especificamente o consumo de ultraprocessados e o aleitamento materno, e parâmetros de composição e diversidade do microbioma intestinal em uma subamostra de participantes da Coorte de Nascimentos de Pelotas de 2004 durante a adolescência. O primeiro artigo original da tese tem como objetivo investigar a relação entre o consumo longitudinal de alimentos ultraprocessados (AUP) e as características quantitativas do microbioma intestinal. Os resultados sugerem que o consumo de AUP aos 11 anos de idade esteve associado a uma redução de bactérias benéficos como gênero Bacteroides e aumento de Peptostreptococcus e Actinobacteria. O segundo artigo objetiva identificar regiões genômicas que influenciem as características quantitativas (abundância e diversidade bacteriana) relacionadas ao microbioma intestinal em humanos, encontramos uma variante do gene SLC5A1 foi associada a menor abundância da bactéria Oxalobacter, um gênero potencialmente envolvido na regulação do metabolismo do oxalato. O terceiro artigo da tese buscou avaliar a associação entre padrão de amamentação aos 3 meses de idade (amamentados exclusivamente, amamentação mista e não amamentados) na diversidade e composição da microbiota intestinal dos participantes da subamostra. Não foram encontradas diferenças na diversidade alfa entre os padrões de amamentação investigados. Foram observadas associações modestas entre os padrões de amamentação e a composição da microbiota intestinal aos 12 anos de idade. A amamentação não exclusiva e a introdução precoce de líquidos ou alimentos semissólidos foram associadas a uma maior abundância ou presença de Ruminococcus e Eubacterium. No entanto, essas associações não permaneceram significativas após a correção para múltiplos testes, sugerindo efeitos limitados a longo prazo.