Frutas, legumes e verduras nas feiras-livres de Pelotas e sua contribuição na segurança alimentar e nutricional
Resumo
A promoção da Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) busca, entre outros objetivos, garantir o Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA). Além de ser nutritiva, uma alimentação saudável precisa respeitar e manter a cultura e a soberania alimentar. Do ponto de vista econômico e ambiental, deve, ainda, ser sustentável. Para alcançar este conjunto de princípios, já é desenvolvido o monitoramento das ações de SAN. Uma das dimensões deste acompanhamento é a produção e distribuição de alimentos. Com relação à venda dos produtos alimentícios, descobre-se, nas feiras livres, um espaço de comércio de alimentos e de encontros sociais e culturais. E nas frutas, legumes e verduras (FLV) alimentos que, geralmente, são produzidos por agricultores familiares, alimentos que resgatam o vínculo com o produtor e, além disso, constituem uma dieta saudável. Diante do exposto, o presente estudo tem por objetivo caracterizar as feiras livres, os feirantes e as FLV comercializadas nestes locais, no município de Pelotas, no estado do Rio Grande do Sul. Busca-se, assim, apreender, sob o ponto de vista dos feirantes, como ocorre e é valorada a produção e comercialização de tais alimentos. Para tanto, utilizaram-se, concomitantemente, os métodos quantitativo e qualitativo. Durante o desenvolvimento do primeiro, foi realizada a aplicação de um questionário com questões fechadas. As perguntas foram direcionadas aos feirantes, donos das bancas, que estavam presentes durante o período de coleta dos dados e aceitaram participar da pesquisa. Para a aplicação do método qualitativo, por sua vez, realizou-se observação participante e entrevistas semiestruturadas. Os resultados encontrados revelaram que a cidade conta com aproximadamente 40 locais de feiras, distribuídos, principalmente, na zona central. Os feirantes apresentaram-se como somente produtores, produtor e revendedor ou somente revendedor. Os feirantes que apenas compram e revendem os alimentos constituem a maior parte dos comerciantes. As feiras foram classificadas como convencionais e ecológicas, sendo nomeadas de acordo com o tipo de produção empregado no alimento. Mais de 90% das feiras são convencionais, existindo apenas três pontos de feiras ecológicas no município. Os valores atribuídos aos alimentos e as relações estabelecidas - tanto com as FLV quanto com os fregueses - revelaram-se de maneiras distintas na abordagem dos feirantes ecológicos e convencionais. Para os primeiros, há uma relação de cuidado com o alimento e com o freguês, que é trabalhada em conjunto com a importância financeira do comercio de FLV. Para os demais, o que predomina é apenas a relação de mercadoria que está associada à venda dos alimentos. Da mesma forma, os feirantes ecológicos relataram que os seus fregueses buscam por qualidade e procedência. Por outro lado, segundo relatado pelos feirantes convencionais, os seus fregueses procuram as FLV levando em conta, prioritariamente, a aparência dos alimentos. Ressalta-se, por fim, que entender e abordar todas as questões, valores e relações estabelecidas em torno do alimento são fatores imprescindíveis para a promoção da SAN.