A condição humana do Enfermeiro-docente da Universidade Federal de Pelotas: uma perspectiva arendtiana
Resumo
A Enfermagem é uma profissão imprescindível nos cuidados em saúde, e os Enfermeiros-docentes têm um papel fundamental na formação de novos seres humanos para o mundo. Ao analisar as atividades desempenhadas por eles, percebe-se o envolvimento demasiado com as tarefas da docência, as relações interpessoais fragilizadas e a necessidade de atender a diversas demandas, contribuindo para o adoecimento dessas pessoas. Nesse sentido, a obra A condição humana (1958), de Hannah Arendt (1906-1975), possibilita analisar as atividades realizadas pelos Enfermeiros-docentes em relação aos cuidados com o corpo, ao fazer profissional e à participação em espaços públicos e políticos, isto é, referentes ao trabalho (labor), à obra (work) e à ação (action). O objetivo é compreender a condição humana do ser Enfermeiro-docente da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas (FEn/UFPel). A pesquisa caracteriza-se como qualitativa e utiliza a Fenomenologia como referencial metodológico. Os participantes foram vinte Enfermeiros-docentes, sendo a maioria mulheres, entre 29 e 62 anos de idade, casadas, com filhos, possuíam o título de Doutor e atuavam de um a 37 anos na FEn/UFPel. A coleta de dados ocorreu mediante a entrevista Fenomenológica, procedendo-se a análise Hermenêutica, segundo os pressupostos teóricos de Paul Ricoeur. Os resultados permitiram apresentar três categorias referentes à Vita Activa dos participantes. A centralidade da Vita Activa do Enfermeiro-docente está na obra (work), por isso, ele pode ser considerado um "ser da fabricação" na Universidade Pública, ou seja, um homo faber, ao realizar as tarefas de ensinar, aprender, elaborar, organizar e cuidar. Os resultados dos seus produtos são interiorizados por outros seres humanos, e relacionam-se à busca de um labor melhor para o usuário e a apreensão de conteúdos específicos de Enfermagem com qualidade pelos estudantes. As relações interpessoais estabelecidas por eles, no nível do work, ocorrem simultaneamente, mediante a autoridade, a hierarquia, o comando e a obediência e pertencem a uma Rede de Ensino e de Cuidado. Os entrevistados demonstraram priorizar as atividades da docência em detrimento dos cuidados com o próprio corpo e mente (labor), por isso, notam-se alterações na alimentação, no descanso, nas eliminações fisiológicas e na prática de atividade fisica, resultando no (des)cuidado do próprio labor e no afastamento da convivência familiar, favorecendo o adoecimento. Em relação à ação (action), eles estão cientes da responsabilidade pelas próprias ações e decisões, e também pelo cuidado do outro. A cidadania é exercida no espaço público-político do Departamento, nas instâncias de decisão da UFPel, na Associação dos Docentes (sindicato) e no Conselho Municipal de Saúde, e constituem uma Rede de Relações Políticas, embora eles comentem dificuldades para se sentirem agentes políticos no âmbito da Universidade e fora dela. As três atividades da Vita Activa dos Enfermeiros-docentes precisam estar em equilíbrio para que eles possam ter uma existência plena, com saúde, vida privada e um fazer (work) satisfatório e eles podem utilizar o espaço público-político para romper com a perpetuação de práticas que contribuem para o (des)cuidado do labor, a escassa vida política e a demasiada dedicação ao work.