Arquitetura do êxodo: patrimonialização associada às secas no Ceará (1877-1932)
Resumo
Esta dissertação investigou a produção arquitetônica, seja de caráter temporário ou permanente, construída com a justificativa do assistencialismo e da caridade aos retirantes durante as secas no Ceará entre 1877 - 1932. Teve como objetivo apresentar a dinâmica de funcionamento desses lugares no contexto histórico e urbano em que se inserem e analisar os discursos e interesses que justificaram a produção arquitetônica em respostas aos deslocamentos de sertanejos. Teve como hipótese a premissa de que a institucionalização do Estado vinculada à essa configuração espacial, quer seja efêmera ou permanente, utilizou-se de políticas de extermínio e isolamento dos chamados flagelados da seca, população pobre e mestiça considerada pelas autoridades uma ameaça à ordem e ao estilo de vida das elites urbanas. Os retirantes, como eram identificados os refugiados da seca obrigados a sair do sertão em direção aos centros urbanos com a promessa dos socorros públicos, eram
submetidos ao trabalho e migração forçados, à privação de liberdade e a baixas condições de sobrevivência nos abarracamentos, construídos a partir da Grande Seca em 1877-79; nos acampamentos de obras contra às secas; nos Currais do Governo, como eram conhecidos os campos de concentração construídos à partir de 1915; e nos espaços asilares para órfãos,
mulheres, pobres e para os considerados insanos sobreviventes dos grandes períodos de estiagem. A pesquisa é exploratória qualitativa e utilizou a antiga Colônia Orfanológica Christina como estudo de caso.