Uma análise documental e historiográfica do duplo sabbath na Etiópia Cristã (séculos XIV-XVI)
Resumo
Este trabalho explora a implementação do duplo sabbath na Etiópia Cristã, abrangendo o sábado e o domingo, durante o reinado de Zarʾa Yāʿeqob (1434-1468). Essa prática foi oficializada no concílio de 1450 em Dabra Meṭmāq, sendo parte das políticas centralizadoras do governante, que buscava fortalecer o poder monárquico e prevenir possíveis separatismos, especialmente em regiões setentrionais influenciadas pelo movimento eustatiano. O movimento, liderado pelo monge ʾEwosṭātewos, defendia a observância equitativa do sábado e do domingo, uma prática que entrou em conflito com as autoridades eclesiásticas e políticas da Igreja Etíope, especialmente a partir do século XIV. A tese examina as fontes etíopes do período para traçar uma cronologia das menções ao termo "sanbat" (sabbath) e as mudanças em sua observância ao longo dos séculos. Entre as fontes analisadas, Zarʾa Yāʿeqob se destaca por implementar políticas que não apenas militarmente, mas também culturalmente, combateram movimentos separatistas ao norte do Estado. As regiões do norte, que estavam associadas ao movimento eustatiano, buscavam maior autonomia frente ao poder central salomônida, e a questão religiosa desempenhou um papel crucial nesse conflito. O trabalho se estrutura a partir de uma análise historiográfica detalhada sobre a evolução do sabbath, tanto no contexto do cristianismo de modo geral quanto no cristianismo etíope. O autor examina como, nos primeiros séculos do cristianismo, houve uma tentativa de abandonar a observância do sábado em favor do domingo, mas essa mudança não foi universal, especialmente nas Igrejas Orientais, como a Etíope. Nesse contexto, Zarʾa Yāʿeqob foi um dos principais responsáveis por integrar a observância do duplo sabbath à ortodoxia etíope, consolidando o poder monárquico e promovendo a uniformidade litúrgica e doutrinária. A metodologia da pesquisa se baseia na análise documental de manuscritos etíopes dos séculos XIV a XVI, bem como em uma revisão da literatura relevante sobre o tema. A tese argumenta que Zarʾa Yāʿeqob foi bem-sucedido em suas ações centralizadoras, fortalecendo a monarquia e integrando as regiões setentrionais ao poder central, através de uma combinação de força militar e controle religioso. Assim, a tese contribui para o entendimento das intersecções entre religião e poder político na história da Etiópia, destacando a importância da observância do sabbath na configuração da Cristandade Etíope.