Escravidão, família e criminalidade no sul do Brasil (Piratini–RS, 1810-1871)
Resumo
A presente pesquisa tem como objetivo analisar a criminalidade escrava no Brasil oitocentista tendo como locus de análise a localidade de Piratini, entre 1810-1871. O norte para tal objetivo foi uma tentativa de insurreição de escravizados crioulos, campeiros do município no ano de 1865, em um período em que houve um aumento substancial de crimes na localidade. As fontes utilizadas nos capítulos da tese reúnem desde listas de criadores e outras atividades economicas, que apresentam um espaço de economia subsidiária e agropecuária; os inventários post-mortem, registros de batismos, que apresentam os perfis das escravarias em Piratini que seguia a tendência de outras regiões do Império brasileiro de muitos escravizadores com poucos escravizados. As fontes documentais quando cruzadas apresentam um contexto no qual estavam inseridos os escravizados de Piratini, em uma sociedade em que 40% da população era não branca, contestando a clássica visão açoriana da localidade. Piratini apresentava um forte impacto do tráfico Atlântico em que houve uma babel de heterogeneidade africana, que com as leis anti-tráfico fez crescer a importância da reprodução natural na localidade. Este trabalho ressalta a importância a família escrava e como essa experiência fez com que as lembranças de pais e mães fossem destacadas pelos escravizados frente às forças de repressão do Estado. Serão analisados os reflexos das leis antitráfico de escravizados naquela sociedade escravista, e como esse funcionamento social gerou tensões nas relações dos escravizados com seus escravistas e terceiros. É neste cenário em que os escravizados campeiros da localidade como Thomé, Casemiro e André foram indiciados como réus da tentativa de insurreição e fuga para o Estado Oriental.