A ativação e mobilização social pelo patrimônio afro- religioso em Pelotas: narrativas e lutas da Comunidade Beneficente Tradicional de Terreiro Caboclo Rompe Mato Ile Axé Xangô e Oxalá.
Resumo
O estudo investiga a ativação patrimonial e mobilização social pelo patrimônio afro-religioso brasileiro, com foco na Comunidade Beneficente Tradicional de Terreiro Caboclo Rompe Mato Ile Axé Xangô e Oxalá (CBTT), em Pelotas/RS. O objetivo é compreender as demandas dos Povos de Terreiro pelo reconhecimento patrimonial desses espaços, analisando os desafios e impactos sociopolíticos dessa institucionalização. A pesquisa adota uma abordagem qualitativa, combinando análise documental, revisão bibliografia e entrevistas narrativas com lideranças religiosas. Os resultados evidenciam que a patrimonialização das terreiras de Umbanda pode ser um importante avanço na valorização da diversidade cultural brasileira, mas enfrenta
desafios estruturais. A ausência de registros formais dessas casas no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) reflete o apagamento histórico das religiões de matriz africana e sua exclusão das políticas de preservação. Além disso,
o estudo revela que a patrimonialização de terreiras não se limita à proteção física dos espaços, mas envolve o reconhecimento da centralidade da oralidade, dos rituais e da ancestralidade na construção da memória afro-religiosa. As entrevistas com
lideranças religiosas destacam a luta constante contra a intolerância e o racismo religioso, fatores que dificultam a visibilidade e aceitação dessas tradições no campo patrimonial. Entretanto, quando se trata das casas de religião afro-gaúchas a
característica da Linha Cruzada mostra-se um elemento conflituante para os pedidos de tombamento e registro, seja à nível estadual ou nacional. Nesse sentido, a pesquisa reafirma que o reconhecimento das terreiras de Umbanda como patrimônio
cultural não se trata apenas de uma questão institucional, mas também de uma demanda social e histórica, essencial para a valorização da diversidade religiosa e para a construção de políticas públicas mais inclusivas.