Ruralidades persistentes: identidades, trajetórias e modos de vida entre os migrantes da serra para o bairro Santa Marta em Camaquã-RS
Resumo
A pesquisa consiste em uma análise das trajetórias dos migrantes do campo para a cidade, tendo como locus específico o Bairro Santa Marta, situado no extremo norte da cidade de Camaquã-RS. Observou-se, neste sentido, as motivações, os locais de
origem, as estratégias de adaptação e as manifestações de continuidade da cultura rural neste ambiente. Para tanto, a pesquisa operou através de um arranjo metodológico que buscou captar as experiências e percepções desses sujeitos e a cristalização desses processos nas formas sociais e paisagísticas do bairro. O Bairro Santa Marta representa uma das principais vias de comunicação entre a cidade de Camaquã e a parte de seu interior rural, popularmente conhecido como serra. O bairro é significativamente ocupado por famílias que, ao longo de gerações, chegam à cidade em movimentos de migração a partir dessa região. Nos extremos da Santa Marta, as interfaces entre o campo e a cidade, entre os modos de vida rural e o urbano, podem
ser notadas sob os mais diversos aspectos da vida social, das paisagens, da cultura e da economia. Famílias de perfil ocupacional urbano dividem espaço com outras que mantêm pequenas propriedades ou terrenos com cultivo de alimentos, lavouras de fumo e criações de animais. Forma-se ali uma vizinhança que mescla padrões de ocupação do espaço comumente associados ao mundo rural àquelas que se entende por urbanas, em um processo que contém tensões e contradições, mas também continuidades e notável coesão. O estudo conta com a análise de doze entrevistas semiestruturadas, considerações sobre as formações paisagísticas mediadas por produção e análise fotográfica, e observações de caráter vivencial, decorrentes da experiência imersiva do autor. Para tanto, evocam-se contribuições principalmente de José de Souza Martins (2008, 2014, 2017), Milton Santos (1997, 2005, 2014) e Maria José Carneiro (1998a, 1998b).