O campo psicanalítico brasileiro contemporâneo: um estudo sociológico
Resumo
O presente trabalho tem como objeto de estudo o campo psicanalítico brasileiro e as disposições dos psicanalistas a ele pertencentes. A partir de uma revisão bibliográfica sobre a Psicanálise no Brasil, nota-se que as primeiras ideias psicanalíticas chegam ao Brasil no início do século XX, momento em a Psicanálise é articulada às ambições, de partes das elites, de modernização do país. Ao longo do século, porém, ela se institucionaliza e realiza um movimento de fechamento em torno da clínica privada e de restritos grupos psicanalíticos. Este cenário passa a mudar na década de 1970, com a chegada de psicanalistas lacanianos argentinos e com o fortalecimento de outros grupos psicanalíticos situados fora da psicanálise dominante. A Psicanálise passa a ser mais plural e engajada politicamente, em especial nos últimos anos. Assim, a proposta deste estudo foi compreender a configuração do campo psicanalítico brasileiro atual, bem como as disposições dos psicanalistas. Para tal, recorreu-se a Pierre Bourdieu e sua teoria dos campos sociais para investigar a Psicanálise enquanto um espaço de posições relacionais, no qual os agentes disputam bens e recursos. Além disso, utilizou-se o conceito de disposições de
Bourdieu para a investigação das disposições dos psicanalistas. A metodologia utilizada combinou a abordagem quantitativa e qualitativa. Primeiro, utilizou-se a Análise de Correspondências Múltiplas, intimamente relacionada ao pensamento relacional de Bourdieu, ela permite a visualização da estrutura do campo social e a identificação oposições no campo. Em um segundo momento, baseado no resultado da primeira etapa, utilizou-se entrevistas semiestruturadas e fontes públicas para a apreensão da trajetória e das disposições dos psicanalistas. Em relação aos resultados, a Análise de Correspondências Múltiplas delineou as oposições centrais no campo psicanalítico brasileiro, revelando duas dimensões principais: a primeira dimensão concentrou-se nas propriedades acadêmicas e midiáticas, enquanto a segunda dimensão discerniu as oposições relacionadas à trajetória e filiação psicanalítica, distinguindo entre instituições ortodoxas e heterodoxas. As oposições identificadas propiciaram a caracterização de quatro perfis de psicanalistas: o ortodoxo com recursos limitados, o heterodoxo estabelecido com amplos recursos acadêmicos e midiáticos, o heterodoxo estabelecido com recursos acadêmicos intermediários e poucos recursos midiáticos, e o heterodoxo não estabelecido, com poucos recursos acadêmicos e midiáticos. Esses perfis refletem o panorama de disputas no espaço social, ecoando a história do campo. A partir dos perfis delineados, sete psicanalistas foram selecionados para a realização de entrevistas e aprofundamento de suas disposições. Os dados resultados auxiliaram na maior compreensão do objeto estudado. Reconhecendo as limitações e apontando a importância de futuras investigações, a pesquisa contribui para o entendimento da Psicanálise no Brasil, bem como busca contribuir para o desenvolvimento da pesquisa sociológica.