O horizonte de emergência ecológica e a crise das democracias liberais
Resumo
A presente tese tem por objetivo investigar se e em que medida a emergência ecológica condiciona e amplifica a crise das democracias liberais. Embora haja algum consenso de que vivemos um período de recessão democrática e de grave desequilíbrio ambiental, não é comum que essas crises sejam diretamente relacionadas nas análises levadas a efeito no contexto acadêmico e no debate público. Nessa perspectiva, o escopo principal do estudo foi elucidar os elementos que as vinculam, iniciando-se o percurso pelo detalhamento da crise ecológica e suas raízes antropogênicas, com especial ênfase na circunstância de que, apesar da indissociabilidade entre a materialidade do mundo e as nossas concepções sociais, a dimensão ambiental historicamente permaneceu, em termos de elaboração teórica e prática política, na sombra dos aspectos socioeconômicos. No que se refere ao fenômeno multicausal da contemporânea desdemocratização, além dos diagnósticos
apresentados por representantes de diferentes matrizes teóricas, a pesquisa demonstra a relevância da instrumentalização do negacionismo climático e da correlata reivindicação da liberdade em contornos irrestritos como elementos fortemente vinculados ao avanço do populismo reacionário. O estudo demonstra, ademais, que a emergência climática, ao recrudescer a desigualdade e a exclusão socioambiental, tende a desestimular a participação política e ampliar a desconfiança na capacidade das instituições, o que fomenta a implementação de projetos autoritários. Por fim, realça a associação entre a gramática neoextrativista, a degradação ambiental e a erosão democrática, ilustrada pelo representativo caso brasileiro. Assim, a investigação agrega ineditismo ao diagnóstico da crise das democracias liberais e robustece o papel central da questão ecológica na disputa por hegemonia política.