Lectina quimérica biespecífica: estratégia terapêutica para o câncer de pâncreas
Resumo
Células tumorais apresentam glicanos modificados em sua superfície, que não estão
presentes em células saudáveis, decorrentes das mutações que afetam o metabolismo
celular. As lectinas, proteínas que interagem com carboidratos de forma altamente
específica e seletiva, reconhecem os glicanos modificados e induzem a morte celular.
Frequentemente, os N-glicanos (como a high mannose) e O-glicanos (como os antígenos
T e Tn) modificados estão presentes em diversos tipos de cânceres. Neste estudo,
análises de bioinformática e tecnologia do DNA recombinante foram empregados para
construir, caracterizar e testar uma lectina quimérica com atividade antitumoral. Esta
quimera é constituída de um mutante da lectina de banana (Musa acuminata) e a lectina
do cogumelo Xerocomus chrysenteron (XCL) e apresenta afinidade tanto por high
mannose quanto pelos antígenos T e Tn. Estudos de docking contribuíram para a análise
da afinidade de interação com os ligantes descritos, sendo que a quimera apresentou
maior afinidade pelo antígeno T e a high mannose com cinco ramificações. A dinâmica
molecular por 100 ns permitiu avaliar a estabilidade da macromolécula, que demonstrou
pouca variação nas métricas de RMSD, RMSF e raio de giro na temperatura testada,
mantendo também a conformação esperada. Testou-se a produção recombinante da
quimera em diferentes cepas, temperaturas e concentrações de agente indutor. A nova
proteína de 32 kDa foi produzida em E. coli na cepa Origami e suas porções isoladas
foram produzidas na cepa RIL. O protocolo de indução da expressão a 16 °C overnight
produziu a maior quantidade da lectina quimérica, sendo solúvel em D-PBS após a
diálise. Sua atividade antitumoral foi testada em cultivo celular 2D e 3D em células de
câncer de pâncreas CFPAC-1 e demonstrou acentuado efeito antiproliferativo no cultivo
2D, embora sua ação seja reduzida no cultivo 3D. As prováveis vias de ação da lectina
quimérica foram avaliadas utilizando marcadores conhecidos de apoptose e autofagia
por Western Blotting, revelando que a quimera estimula a morte celular através de um
mecanismo distinto daquele apresentado por suas porções isoladas. Este estudo é
pioneiro na área de lectinologia e apresenta uma possível terapia antitumoral de amplo
espectro derivada de fontes naturais e produzida em grandes quantidades através de
expressão recombinante.