Sais de piridínio contendo selênio: um estudo sobre propriedades antioxidantes in vitro e potencial de toxicidade em camundongos
Resumo
O estresse oxidativo é o desequilíbrio redox envolvendo a produção de oxidantes e a capacidade de resposta por antioxidantes, a favor da primeira, desencadeando danos oxidativos às biomoléculas. Perturbações no estado redox estão envolvidas em diversas doenças, incluindo as doenças hepáticas. Desta forma, destaca-se a importância da busca por substâncias antioxidantes que sejam seguras e capazes de atuar como hepatoprotetoras. Diferentes sais de piridínio contendo selênio (Se) têm sido obtidos e apresentam-se como potenciais candidatos terapêuticos em razão de seus componentes estruturais
(Se e anel piridínico) e a sua relativa solubilidade em água. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi avaliar a atividade antioxidante de três sais de piridínio contendo Se através de ensaios in vitro. Este estudo também teve como proposta selecionar um destes sais para a realização de um estudo de toxicidade com o intuito de predizer a sua segurança. Para os ensaios in vitro, foram utilizadas diferentes concentrações (µM) dos compostos brometo de 1-(2-oxo-2-feniletil)-2-((fenilselanil)metil)piridín-1-io, brometo de 1-(2-oxo-2-(p-tolil)etil)-2-((fenilselanil)metil)piridín-1-io e brometo de 1-(2-(4-clorofenil)-2-oxoetil)-2-((fenilselanil)metil)piridín-1-io, nomeados de 3A, 3B e 3C, respectivamente. A atividade antioxidante em tecido hepático de camundongos foi realizada através dos ensaios de lipoperoxidação e carbonilação de proteínas. Técnicas para a detecção de atividade sequestradora de radicais sintéticos (ABTS e DPPH) e de atividade mimética às enzimas superóxido dismutase (SOD) e glutationa S transferase (GST) foram executadas para apontar possíveis mecanismos. Os resultados revelaram que os três sais foram capazes de reduzir os níveis hepáticos de peroxidação lipídica e de carbonilação de proteínas induzidas por
nitroprussiato de sódio. Além disso, estes compostos causaram o sequestro dos radicais ABTS e DPPH e foram capazes de agir de maneira semelhante à GST. Estes resultados foram validados pelo emprego de controles positivos, tais como trolox, ácido ascórbico e (PhSe)2. O composto 3C foi selecionado para o estudo de toxicidade oral aguda (protocolo 423), em que camundongos Swiss fêmeas foram oralmente tratados com as doses de 50 ou 300 mg/kg e acompanhados por 14 dias. Nenhum óbito ocorreu em animais tratados com ambas as doses do composto. Além disso, não houve alterações dos marcadores plasmáticos de função hepática e renal. Embora não tenham sido detectadas diferenças significativas no ganho de peso corporal, consumo médio de água e atividade motora, houve uma redução significativa do consumo médio de comida em
animais expostos à dose mais alta (300 mg/kg) do composto 3C. Em conjunto, os dados indicam que os sais de piridínio contendo Se testados (3A, 3B e 3C) apresentam ação antioxidante, que parece ser mediada, ao menos em parte, por
mecanismos envolvendo o sequestro de radicais livres e a atividade mimética à GST. Ademais, o composto 3C apresenta um baixo potencial para causar toxicidade, o que sugere sua relativa segurança, embora mais estudos sejam necessários. Portanto, este sal é um potencial candidato a ser testado em modelos de dano hepático envolvendo o estresse oxidativo.