Estabelecimento in vitro e análise da variabilidade genética de acessos de espinheira-santa (Maytenus ilicifolia) coletados no Rio Grande do Sul
Resumo
Maytenus ilicifolia Mart. ex Reis., popularmente conhecida como espinheira-santa,
é uma espécie autóctone pertencente à família Celastraceae que apresenta alto
valor medicinal para o tratamento de úlceras, gastrites crônicas, dispepsias e
indigestão. Devido a sua importância medicinal, houve um aumento no
extrativismo em populações naturais, tornando-a prioritária para a conservação, a
fim de evitar o risco de erosão genética. A cultura de tecidos tem importante papel
por proporcionar produção massiva de plantas, livres de agentes patogênicos e
geneticamente uniformes, sendo o estabelecimento in vitro a primeira fase do
processo de micropropagação, onde o material vegetal utilizado pode variar de
acordo com a finalidade do estudo. Estudos evidenciam que o fluxo gênico por
sementes ou dispersão de grãos de pólen, bem como o ambiente, principalmente
o habitat, tem o potencial de aumentar a variabilidade genética de populações de
uma mesma localidade. O objetivo deste trabalho foi estabelecer e avaliar a
capacidade de multiplicação in vitro de plântulas de M. ilicifolia, bem como,
analisar a variabilidade genética de 20 acessos coletados em diferentes
localidades no estado do Rio Grande do Sul, através da técnica AFLP. Para o
estabelecimento in vitro, sementes previamente desinfestadas foram inoculadas
em três meios diferentes: MS; MS + Carvão Ativado (1g L-1) e MS + Vermiculita.
As variáveis analisadas foram altura das plântulas e comprimento de raiz. Para a
viii
análise molecular foram testadas oito combinações de primers AFLP. Os valores
de similaridade genética foram calculados pelo Simple-matching coefficient e
utilizados para gerar o dendrograma de similaridade pelo método UPGMA. As
variáveis analisadas apresentaram diferença significativa, onde as maiores
médias para altura das plântulas (5,06 cm) e comprimento de raiz (3,4 cm), foram
obtidas no meio MS acrescido de Vermiculita. Observou-se que o aspecto
morfológico das raízes deve ser considerado, pois as raízes das plântulas
germinadas em meio MS apresentaram-se bastante fibrosas e com ausência de
pêlos radiculares, diferentemente das plântulas germinadas em meio MS +
Vermiculita, onde apresentaram raízes adequadas para a absorção de nutrientes
do meio de cultura. As oito combinações de primers geraram 455 perfis
eletroforéticos, com 100% de polimorfismo. Os primers E-ACC/M-CAA, E-ACG/MCTA,
E-ACG/M-CTC apresentaram o maior número de perfis eletroforéticos, 71
cada, totalizando 46,80% do polimorfismo total. Na análise do dendrograma foi
observado um alto coeficiente de correlação (r = 0,94), demonstrando elevada
representatividade dos dados de similaridade genética e os de agrupamento. Pela
AMOVA verificou-se que 89,33% da variabilidade total ocorreu entre indivíduos da
mesma população. Com base no exposto conclui-se que o meio mais adequado
para o estabelecimento in vitro é o meio MS acrescido de Vermiculita e
marcadores moleculares tipo AFLP permitem a caracterização e a estimativa da
variabilidade genética de populações de M. ilicifolia.