Plantas medicinais no cuidado em saúde de moradores da Ilha dos Marinheiros: contribuições à enfermagem
Resumo
As plantas medicinais são recursos terapêuticos incorporados no plano de cuidado dos indivíduos desde a existência dos primeiros grupos civilizatórios, que buscavam na natureza estratégias para aprimorar a sua condição de vida e garantir a sua sobrevivência. Assim, várias culturas, em especial a indígena, a africana e a européia, influenciaram na edificação dos saberes e no consumo das plantas medicinais. Esta ação colaborou para o fomento da variabilidade étnica e cultural do
Brasil e, por conseqüência, o surgimento de várias formas de utilização das plantas com fins terapêuticos no mundo todo. O objetivo do estudo foi compreender a utilização das plantas medicinais no cuidado a saúde dos moradores da Ilha dos
Marinheiros, sul do Rio Grande do Sul. A pesquisa foi qualitativa, exploratória e descritiva conduzida na Ilha dos Marinheiros, município de Rio Grande. Este trabalho fez parte do projeto Plantas bioativas de uso humano por famílias de
agricultores de base ecológica na região Sul do Rio Grande do Sul , desenvolvido pela Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas e Embrapa Clima Temperado. Foram abordados 12 informantes-chaves, selecionados a partir
do método de bola-de-neve proposto por Goodman. A coleta de dados ocorreu de fevereiro a julho de 2010. Os instrumentos utilizados foram: entrevista semiestruturada
gravada, registro fotográfico das plantas, ecomapa, georreferenciamento e observação de campo. O referencial teórico adotado se fundamenta na compreensão da cultura e saúde por Clifford Geertz e Madeleine Leininger. O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade de Medicina UFPel (072/2007) e recebeu autorização do Núcleo de Educação Permanente da Saúde de Rio Grande (42/09). Foi utilizada a análise temática, estruturada em dois temas: as práticas de saúde e as plantas medicinais no contexto da Ilha dos Marinheiros, discutindo-se nesta as interfaces com a enfermagem. Dentre os resultados, destaca-se que as plantas medicinais fazem parte da história e cultura locais e representam um recurso importante para a realização do cuidado em saúde entre os ilhéus. Composta predominantemente por descendentes de imigrantes
portugueses, esta comunidade é munida de um saber popular aprendido entre as suas gerações familiares, e utiliza as plantas medicinais tanto para minimizar um sintoma que interfira na saúde, como para prevenir uma situação de mal-estar ou doença. Esta ação é realizada sem dosagem e identificação taxonômica específicas. Deste modo, o resgate etnobotânico e o conhecimento científico necessitam estar
conectados com o processo de transculturação dos saberes populares sobre as plantas medicinais, de forma que a enfermagem as utilize em busca da valorização da cultura local com práticas eficazes em saúde.