Nos bares, cafés e restaurantes de Porto Alegre: cultura material e o ideário moderno em meados do século XX.
Resumo
Durante a primeira metade do século XX, a cidade de Porto Alegre/RS, experimentou transformações e reformas urbanas importantes, tais como a abertura e alargamento de avenidas, a edificação do novo porto e o sensível melhoramento da zona portuária, assim como a construção dos primeiros arranha-céus e a verticalização da paisagem urbana. Sobretudo na zona central da cidade, a intensificação do processo de modernização esteve paralelamente associada a novas práticas sociais e novas experiências vividas por diferentes grupos sociais porto-alegrenses. Nesse sentido, os cafés, os restaurantes, os bares e os hotéis foram espaços públicos tipicamente urbanos que propiciaram toda a sorte de relações sociais, onde eram propagados e exibidos os valores associados ao ideário moderno. Assim sendo, esta pesquisa investiga como a louçaria de mesa empregada por estabelecimentos comerciais da capital gaúcha agiu na produção e manutenção de grupos sociais identificados com um estilo de vida urbano, elitista e moderno. A abordagem do ator-rede, aplicada ao presente estudo de arqueologia
histórica, permitiu rastrear a indefectível ação de louças comerciais em documentos administrativos, crônicas, registros fílmicos e no cotidiano da população portoalegrense. Ao perseguir estes objetos em diferentes fontes de informação, buscouse enfatizar a dimensão não humana das relações sociais, considerando especialmente a participação na louçaria comercial na construção e manutenção de uma masculinidade hegemônica notadamente inserida em uma ordem urbana, industrial, burguesa e capitalista uma sociedade moderna.